segunda-feira, 31 de agosto de 2015

ARTE E COMUNICAÇÃO EM MOVIMENTO: OLHARES POÉTICOS E CATEGÓRICOS SOBRE AS MANIFESTAÇÕES DO CONTRA AUMENTO NA CIDADE DE TERESINA



O Grupo de Estudos Anarquistas do Piui tem a honra de compartilhar mais um livreto produzido pelo grupo. O artigo "ARTE E COMUNICAÇÃO EM MOVIMENTO: OLHARES POÉTICOS E CATEGÓRICOS SOBRE AS MANIFESTAÇÕES DO CONTRA AUMENTO NA CIDADE DE TERESINA", trata, a partir de uma perspectiva histórica e poética, sobre o movimento do 'Contra o Aumento' das tarifas de ônibus na cidade de Teresina, nos ano de 2011 e 2012. Um texto simples, introdutório, que expressa uma análise sobre fatos e situações ocorridas neste momento de movimentações  resistências.



Faça o download aqui: Arte e Comunicação em Movimento 

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Saudações d@s camaradas da Federação Anarquista Gaúcha (FAG) ao II CONAPI.

Saudação ao II CONAPI

Impossibilitad@s de estar presentes no importante Congresso Anarquista do Piauí, a militância da Federação Anarquista Gaúcha (FAG), integrante da Coordenação Anarquista Brasileira, manifesta sua saudação ao congresso e a companheirada que nele toma parte.

Iniciativas como as que @s companheir@s tem animado no Piauí mostram que nossa ideologia tem recobrado sua vigência nos últimos anos, não para se afirmar como elegante requinte de cafés, mas fincando sua rubro negra bandeira em meio às lutas de nossa classe, dos de baixo, daqueles que nas primeiras associações de ajuda mútua da nascente classe operária davam os passos iniciais para o desdobramento de nossa fértil e promissora corrente socialista libertária.

Os tempos que vivem nossa classe, não apenas em nosso país como em escala internacional, são críticos mas abrem perspectivas de luta, resistência a acúmulo de importantes forças aos oprimidos, como temos visto na luta do povo grego contra as genocidas medidas de austeridade e na epopéia da luta do povo curdo que resiste a ofensiva fascista do fundamentalismo religioso organizado no ISIS ao passo que da o sopro de uma alternativa socialista e libertária aos povos do oriente médio.

Em nosso país o ano de 2013 foi um hiato que abriu novos cenários e possibilidades. Se, por um lado a direita em todas as suas vertentes, incluindo suas manifestações proto-fascistas, tem adquirido importante fôlego no cenário político, também temos tido uma importante reconfiguração das lutas sindicais desde as bases, com as chamadas “greves selvagens” que não raras vezes se chocam rigidamente ou até atropelam as direções burocráticas, incluindo ai as “burocracias radicais” organizadas em torno dos partido da esquerda eleitoral. Ocupações por moradia, lutas pelo transporte público e o direito a cidade, luta contra a violência policial nas periferias... um quadro que nos permite constatar que um novo ciclo de lutas e organização popular esta a surgir.

Estar presente desde as bases neste processo é o ponto de partida para fazermos o anarquismo voltar ao olho da tormenta das lutas de classe. Uma tarefa árdua, tortuosa e que poucas glórias nos traz a título pessoal, mas uma tarefa única e indispensável como diria nosso velho Neno Vasco.

Esperamos que este Congresso d@s companher@s seja um momento fundamental para fortalecerem sua organização, tal qual aprofundarem nos devidos debates e análises indispensáveis para a atuação cotidiana. Que seja um espaço de Pensamento e Batalha!

Saudações Libertárias,
Federação Anarquista Gaúcha (FAG) – 20 anos
Organização integrante da Coordenação Anarquista Brasileira (CAB)

sexta-feira, 12 de junho de 2015

CONTOS PROFESSORESCOS I e II

SAUDAÇÕES LIBERTÁRIAS

Inserimos em nossa biblioteca dois textos do companheiro Jaime Pelloutier sobre educação, os CONTOS PROFESSORESCOS. 

O primeiro, escrito em 2014, segundo Katia Motta do Núcleo Pró-Federação Libertária de Educação: "nos mostra que cada espaço de questionamento individual/coletivo reverbera e amplifica os questionamentos individuais/coletivos e nesse pensar junto podemos aos poucos transformar, enquanto nos transformamos. Ninguém dirá que é fácil, nem que existe fórmula. Ninguém dirá que não é cansativo, às vezes; nem solitário, no começo. Mas o professor desses contos nos diz que é possível. E necessário. E requer a coragem revolucionária de, acima de tudo, começar a dizer NÃO."



O segundo, recentemente concluído, nas palavras da GEAPIana, fazedora de pão, dona de casa, professora e tia-apaixonada Rebeca Hennemann: "apresenta-se ao leitor esclarecendo o sentido da utopia anarquista: sonhar as ações para realizar os sonhos, o que requer a ruptura radical com a existência alienada. A proposta do nosso Indocente Suberviso é contrapor à docilização nossa atuação nas dimensões Pedagógica, Classista e Militante, ou seja, espantar-se enquanto alguém que ensina/aprende, alguém que pertence a uma classe social e alguém que se organiza para lutar."
Agradecemos aqui a parceria com o pessoal da Marginal Comics por nos autorizarem a utilizar seu excelente material (arte da capa e texto) de forma a contribuir e valorar o trabalho. 


Os links para download gratuito em PDF estão em nossa biblioteca, aproveitem para dar uma olhada nos demais textos lá disponibilizados. Boa leitura"

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Meu primeiro encontro com Bakunin - Errico Malatesta




Era o fim do verão de 1872, em Nápoles.

A Federação Italiana da Internacional dos Trabalhadores nos tinha delegado Cafieiro e a mim para representá-la no Congresso que se devia celebrar na Suíça (e que ocorreu, em Saint-Imer, no Jura Suíço), para um entendimento entre todas as sessões da Internacional que haviam se rebelado contra o Conselho Geral, no qual, sob a direção de Karl Marx, queria submeter toda a Associação à sua autoridade ditatorial e dirigi-la, não à destruição, mas a conquista do poder político.

Eu estava cheio de entusiasmo naquelas lutas, das quais a sorte da Internacional dependia e o porvir da ação revolucionária e socialista.

Jovenzinho, em minhas primeiras lutas, estava naturalmente muito feliz em poder ir ao Congresso, entrar em relação direta com companheiros de todos os países e talvez também orgulhoso por fazer ouvir minha voz. Naquela idade, quando não se é nada, estava cheio de mim! Mas o que sobretudo me entusiasmava era o pensamento de que conheceria Bakunin e que me tornaria (não duvidava disso) seu amigo pessoal.

Bakunin em Nápoles era uma espécie de mito. Havia estado ali, creio, em 1864 e em 1867, deixando uma impressão profunda. Falava-se dele como uma pessoa extraordinária e como geralmente ocorre, exageravam suas qualidades e seus defeitos. Falavam da sua estatura gigantesca, de seu apetite formidável, de sua vestimenta descuidada, de sua negligência pantagruélica, de seus desprezo soberano ao dinheiro. Contavam que, chegando a Nápoles com uma grande soma de dinheiro, no momento em que se apresentavam revolucionários polacos fugitivos da repressão que seguiu a insurreição de 1863, Bakunin deu simplesmente a metade de tudo o que tinha ao primeiro polaco necessitado que encontrou, e depois a metade da metade ao segundo polaco, e assim sucessivamente até que - e não precisou de muito tempo - ficou sem um centavo. E então pegou o dinheiro dos amigos com a mesma indiferença senhorial que havia dado o seu. Mas isso e outras coisas eram a lenda. 

O importante era a grande conversação que tinha nos círculos avançados, ou os supostos círculos, em torno das ideias de Bakunin, que foi remover todas as tradições, todos os dogmas sociais, políticos, patrióticos, considerados até então pela massa dos "intelectuais" napolitanos como verdades seguras e fora discussão. Para uns Bakunin era o bárbaro do Norte, sem deus e sem pátria, sem respeito a nenhuma coisa sagrada, e constituía um perigo para a santa civilização italiana e latina. Para os outros era o homem que havia levado aos pântanos das tradições napolitanas um sopro de ar saudável, que havia aberto aos olhos da juventude que se aproximou dele para novos horizontes; e estes, os Fanelli, os De Luca, os Cambuzzi, os Tucci, os Palladino, etc., foram os primeiros socialistas, os primeiros internacionalistas, os primeiros anarquistas de Nápoles e da Itália.

E assim, pela força das palavras, Bakunin se tornou para mim também um personagem legendário; e conhecê-lo, aproximar-me dele, aquecer-me com seu fogo era para mim um desejo ardente, quase uma obsessão.

O sonho iria se realizar.

Parti, pois, para a Suíça, junto com Cafieiro.

Naquela época eu estava enfermo, cuspia sangue e me julgavam como tuberculoso ou quase, tanto mais quanto que havia perdido os pais, uma irmã e um irmão por enfermidade do peito. Ao passar o Gotardo pela noite (então não existia um túnel e era necessário rodear a montanha de neve em diligência) me resfriei e cheguei à Zurique, para a casa onde estava Bakunin, pela noite, com tosse e febre.

Depois da primeira acolhida, Bakunin me acomodou em uma cama pequena, me convidou, quase me obrigou a deitar-me nela, me cobriu com todas as mantas e agasalhos que pode recolher, me deu chá fervente e me recomendou que ficasse tranquilo e dormisse. E tudo isso com uma ternura, uma ternura materna que me comoveu o coração.

Enquanto estava envolto sob as mantas e todos acreditavam que estava eu dormindo, ouvi o que Bakunin dizia, em voz baixa, coisas amáveis sobre mim, e depois acrescentou melancolicamente: "Pena que está tão doente; o perderemos logo; não tem mais de seis meses". Não dei importância a este triste prognóstico, porque me parecia impossível que pudesse morrer (eu mal posso acreditar até hoje); mas pensei que haveria sido quase um delito o morrer quando há tanto que fazer pela humanidade. Senti-me feliz pela estima daquele homem e prometi a mim mesmo fazer todo o possível para merecê-la.

No dia seguinte acordei curado e começamos com Bakunin e os demais, suíços, alemães, espanhóis e franceses, aquelas intermináveis discussões que Bakunin sabia dar tanto encanto. 
Fomos à Saint-Imer, onde - note-se a característica da psicologia popular - as crianças acolheram Bakunin ao grito de "Viva Garibaldi!". Naturalmente, sendo Garibaldi o homem que mais tinham ouvido celebrar, aqueles meninos pensavam que deviam ser um homem colossal. Bakunin era colossal, o viram rodeado e festejado, e pensaram que não podia ser ninguém além de Garibaldi.
Tomamos parte no Congresso, depois voltamos para Zurique, discutindo sempre, tomando acordos e fazendo projetos até a noite.

Conheci Bakunin quando ele estava já em idade avançada e cheio das enfermidades contraídas nas prisões na Sibéria. Mas o encontrei sempre cheio de energia e entusiasmo e compreendi toda sua potência comunicativa. Era impossível para um jovem ter contato com ele sem se sentir inflamado pelo fogo sagrado, sem ver os próprios horizontes alargados, sem se sentir cavaleiro de uma nobre causa, sem fazer propósitos magnânimos. 

Isto ocorria com todos os que caiam sob sua influência. Depois, alguns, uma vezes cessado o contato direto, mudaram pouco a pouco de ideias e de caráter e se perderam pelos mais diversos caminhos, enquanto outros sofreram e, se sobreviveram, sofrem ainda aquela influência; mas não houve nada, creio, que ao entrar em contato com ele, ainda que fosse por breve tempo, que não tenha se tornado melhor. 

Para acabar, relatarei um episódio característico. Talvez o tenha contado outras vezes, mas em todo caso merece ser repetido. 

Era o momento, o do Congresso de Saint-Imer, em que Marx, Engels e seus seguidores, em parte por ódio e por vaidade pessoal ofendida, se esforçavam mais por espalhar a calúnia contra Bakunin, saiu com esta proposição: "É preciso pagar àquela gente com a mesma moeda; eles caluniam, caluniemo-los também, nós". 

Bakunin se sacudiu como um leão ferido, fulminou com uma olhada o proponente, se levantou em toda sua gigantesca pessoa e gritou: "O que diz, desgraçado? Não, é melhor ser mil vezes caluniado, ainda que as pessoas acreditem, que se rebaixar a ser um caluniador".


Pensiero e Volontà, Roma, 1926.

segunda-feira, 23 de março de 2015

Lançamento de livreto: Um programa e fuzis - Textos escolhidos sobre a Agrupação Amigos de Durruti



download aqui

"Saudações socialistas libertárias!

Mais uma vez o GEAPI – Grupo de Estudos Anarquistas do Piauí disponibiliza textos no intuito de engrandecer e ampliar as perspectivas ácratas em língua portuguesa.
Desta vez, trazemos a público uma discussão pouco conhecida dentro dos círculos anarquistas nacionais e internacionais. Aos que começam a debruçar-se sobre a teoria e o movimento ácrata, por vezes encontram textos, enciclopédias, e livros tidos como “bíblias do anarquismo” que trazem um episódio histórico em que os socialistas libertários tiveram uma imensa participação: A Guerra Civil Espanhola.

Em quase todas estas, aponta-se motivos diversos que causaram a derrota da Revolução: Complôs e intervenções stalinistas, franquistas, estadunidenses; a falta de mantimentos para a luta armada; sabotagens realiza-das por agrupamentos trotskistas; mas em nenhum momento, a teoria defendida pela CNT-FAI (Confederação Nacional do Trabalho – Federação Anarquista Ibérica) para a Guerra Civil é colocada a prova, ou apontada como causae mortis daquela grandiosíssima insurreição popular.

Mas qual a teoria defendida pela CNT-FAI? Quem nos responde é a “Agrupação Amigos de Durruti”: Nenhuma; e por conta disso, ela capitulou ante a “Frente Popular”, abrindo espaço para todos os tipos de contrarrevolucionários. Segundo “Os Amigos de Durruti”, quem deixou escapar a Revolução (e por vezes a sufocou) foi a própria CNT-FAI, mantendo inúmeros militantes das duas organizações em ministérios do governo provisório, como Frederica Montseny e Diego Abad de Santillán.

Mais que um debate teórico, a crítica dos “Amigos de Durruti” às duas maiores organizações revolucionárias da Península Ibérica, é um chamado à autocrítica sincera e profunda do movimento anarquista como um todo, em seus vários enfrentamentos internos, como os coletivistas e anarco-comunistas, os sintetistas e os plataformistas, e atualmente, os anarcossindicalistas estadunidenses e os socialistas libertários turcos do DAF (Ação Anarquista Revolucionária).

As aparências enganam. O anarquismo não é tão homogêneo como apontam os autores George Woodcock e Max Nettlau, e para organizações anarquistas, presentes e futuras, é essencial considerar as proposições apontadas, não como uma imposição, mas uma necessidade teórica".

segunda-feira, 9 de março de 2015

Mikhail Bakunin - Idealismo e Materialismo




Introdução do GEAPI
Saudações socialistas e libertárias!
O GEAPI, Grupo de Estudos Anarquistas do Piauí disponibiliza hoje mais um capítulo do primeiro tomo do livro Escritos de Filosofía Política, uma compilação de textos de Mikhail Bakunin realizada por G. P. Maximoff.
No presente texto, Bakunin traça paralelos entre o idealismo e o materialismo, realizando esta análise baseado no desenvolvimento histórico do pensamento humano coletivo e trazendo características de ambos os sistemas, contrapondo a todo instante um ao outro.
Mais uma vez, impulsionamos a obra de Bakunin para demonstrar a injustiça pela qual o autor foi acusado durante dezenas de anos: A suposta falta de teoria.
Esperamos sinceramente, dentro dos nossos limites, apresentar a contradição dessa afirmação, assim como auxiliar pesquisadores e militantes a compreender um pouco mais sobre as ideias desenvolvidas por Mikhail Alexandrovich Bakunin.
Boa leitura!

Desenvolvimento do mundo material*. O desenvolvimento gradual do mundo material, assim como da vida orgânica animal e da inteligência historicamente progressiva do homem tanto individual como social é perfeitamente concebível. Constitui um movimento inteiramente natural desde o simples ao complexo, desde o inferior ao superior, e desde baixo até o alto; um movimento conforme nossa experiência cotidiana e de acordo com nossa lógica natural, com as leis de nossa mente, a qual, ao se formar, e desenvolvido somente com ajuda desta mesma experiência, não é senão sua reprodução na mente e no cérebro, sua pauta imediata.

O sistema dos idealistas. O sistema dos idealistas é praticamente o oposto. Constitui a completa inversão de toda a experiência humana e de todo o sentido comum universal e geral, que constitui a condição necessária de qualquer entendimento entre os homens que, elevando-se desde a verdade simples e unanimemente admitida de que dois mais dois são quatro até as especulações científicas mais sublimes e complicadas sem admitir, afinal, nada que não seja estritamente confirmado pela experiência e pela observação dos fatos e fenômenos, se transforma na única base do conhecimento humano.

O caminho dos metafísicos. O caminho seguido pelos cavalheiros da escola metafísica é inteiramente diferente, e por metafísicos não nos referimos aos seguidores da doutrina hegeliana, escassos na atualidade, mas também aos positivistas e a todos os partidários atuais da deusa ciência; e, da mesma forma, todos aqueles que, precedendo por diversos meios, até pelo estudo mais árduo, ainda que necessariamente imperfeito do passado e do presente, levantaram um ideal de organização social onde querem enquadrar todas as coisas, como na cama de Procrustes, a vida de gerações futuras; já todos os que, em uma palavra, não consideram o pensamento e a ciência como manifestações necessárias da vida natural e social, senão que reduzem nossa pobre vida até o extremo de ser ela somente a manifestação prática de seu próprio pensamento e sua própria e imperfeita ciência.

O método do idealismo. Em vez de perseguir a ordem natural do inferior ao superior, desde o mais baixo ao mais alto, desde o relativamente simples ao mais complexo, em vez de perseguir sábia e racionalmente o movimento progressivo e real, desde o mundo chamado inorgânico até o mundo orgânico, do reino vegetal, a sua continuação no reino animal, e por último, ao mundo especificamente humano; em vez de seguir o movimento desde a matéria ou a atividade química até a matéria, ou a atividade vivente, e desde a atividade vivente ao ser pensante, os idealistas, obcecados, cegos e impelidos pelo divino fantasma que herdaram da teologia, tomam precisamente o caminho oposto.
Começaram com Deus, apresentando-o como uma pessoa ou como uma substância divina, e o primeiro passo que dão é uma terrível queda desde as sublimes alturas do ideal eterno até o pântano do mundo material; da perfeição absoluta à imperfeição absoluta; do pensamento ao ser, ou melhor, do Ser Supremo à pura nulidade.

O Idealismo e o Mistério da Divindade. Quando, como ou porque o Ser Divino, eterno, infinito, absolutamente perfeito (e provavelmente entediado de si mesmo) decidiu, dar este desesperado salto mortal é algo que nenhum idealista, nenhum teólogo, nenhum metafísico nem nenhum poeta foi capaz de explicar ao laico nem de ele mesmo compreender. Todas as religiões, passadas ou presentes, e todos os sistemas de filosofia transcendental, giram ao redor deste mistério único e iníquo.
Os homens sagrados, os legisladores inspirados pela divindade, os profetas e os messias buscaram em toda a vida, descobrir unicamente o tormento da morte. Como a antiga Esfinge, o mistério os devorou, porque seriam incapazes de explica-lo. Grandes filósofos, de Heráclito à Platão, até Descartes, Spinoza, Leibniz, Kant, Lichte, Schelling e Hegel, para não citar os filósofos indianos, escreveram enormes quantidades de volumes e construíram sistemas tão geniais quanto sublimes, onde dizem do passado muitas coisas grandes e belas, e onde descobrem verdades imortais, mas deixam este mistério o objeto principal de suas investigações transcendentais, tão insondável como antes, e se os gigantescos esforços dos mais prodigiosos gênios conhecidos pelo mundo, que ao longo de trinta séculos pelo menos, empreenderam um atrás do outro este trabalho de Sísifo, só conduziram a fazer todavia mais incompreensível este mistério, como esperar que nos seja desvelado pelas especulações, faltas de inspiração de algum discípulo pedante, ou de uma metafísica artificialmente reaquecida? E tudo isto durante um tempo em que todos os espíritos vivos e sérios se apartam da ambígua ciência que apareceu como efeito de um compromisso – sem dúvida explicável historicamente entre a injustiça da fé e a sensata razão científica.
É evidente que este terrível mistério não pode se explicar, o qual significa que é absurdo, pois só o absurdo rechaça a explicação. É evidente que quem o considere essencial, para sua vida e felicidade deve renunciar a sua razão e voltar, se puder, a fé ingênua, cega e primitiva, repetindo com Tertuliano e todos os sinceros crentes as palavras que resumem a quintessência da teologia: Credo quia adsurdum (creio porque é absurdo). Então cessa toda discussão, e só permanece a triunfante estupidez da fé.

As contradições do idealismo. Os idealistas não tem seu forte na lógica, e poderia dizer-se que a desprezam. Esta atitude os distingue dos metafísicos pertencentes a escola panteísta e deísta e outorga a suas ideias o caráter do idealismo prático, que não extrai sua inspiração tanto de um rigoroso desenvolvimento do pensamento como da experiência quase diria que, das emoções históricas, coletivas e individuais da vida. Isto proporciona a sua propaganda um aspecto de opulência e poder vital, mas só um aspecto; porque a vida mesma se faz estéril quando se vê paralisada por uma contradição lógica.
Esta contradição consiste no seguinte: Querem a Deus, e querem a humanidade. Persistem em conectar ambos os termos que, uma vez separados, não podem vincular-se sem uma recíproca destruição. Afirmam ao mesmo tempo “Deus e a liberdade do homem” ou “Deus e a dignidade, justiça, igualdade, fraternidade e bem estar dos homens”, sem pagar tributo à lógica fatal em virtude da qual se Deus existe, todas essas coisas estão condenadas à inexistência.
Porque se Deus é, é necessariamente o Senhor eterno, supremo e absoluto, e se existe um amo semelhante, o homem é um escravo. Agora, se o homem é um escravo, nem a justiça, nem a igualdade, nem a fraternidade, nem a prosperidade são possíveis à ele.
Eles (os idealistas), desafiando a sensatez e toda a experiência histórica, podem representar o seu Deus como um ser animado pelo mais terno amor pela liberdade humana; mas um senhor, faça o que for, e por mais liberal que queira parecer, será sempre um senhor, e sua existência implicará necessariamente a escravidão de todos os que estão abaixo dele. Em consequência, se Deus existisse, só poderia favorecer a liberdade humana de um modo: Deixando de existir.
Sendo um zeloso amante da liberdade humana, e considerando-a condição necessária para tudo o quanto, admiro e respeito na humanidade, inverto o aforismo de Voltaire e digo: “Se Deus existisse realmente, seria necessário aboli-lo”.

Os defensores contemporâneos do idealismo. Com exceção dos corações e espíritos grandes, mas estragados, a quem já me referi, quem são atualmente os mais obstinados defensores do idealismo? Em primeiro lugar, todas as casas reinantes e seus cortesãos. Na França foi Napoleão III e sua esposa Madame Eugenie; foram também seus antigos ministros, cortesãos e marechais, desde Rouher e Bazaine, até Fleury e Pietri; os homens e mulheres deste mundo imperial fizeram um bom trabalho idealizando e salvando a França; jornalistas e sábios, como os Cassagnacs, os Girardins, os Duvernois, Os Veuillots, os Leverriers, os Dumas; a falange negra de jesuítas masculinos e femininos, sejam quais forem suas roupas, toda nobreza, assim como a alta e a média burguesia da França; os liberais doutrinários e os liberais sem doutrina; os Guizots, os Thierses, os Jules Favres, os Pelletans e os Jules Simons, todos eles ásperos defensores da exploração burguesa. Na Prússia, na Alemanha, é Guilherme I, atual representante do Senhor Deus sobre a Terra; todos seus generais, seus funcionários, os de Pomerania e os outros; todos são do exército que, firme em sua fé religiosa, acaba de conquistar a França do modo “ideal” que chegamos a conhecer tão bem. Na Rússia é o Czar e sua corte; os Maravievs e os Bergs, todos os carniceiros e devotos convertidos da Polônia.

O idealismo é a bandeira da força bruta. Em resumo, por todas as partes o idealismo religioso ou filosófico (pois um é simplesmente uma interpretação mais ou menos livre do outro) serve como bandeira da força material, brutal e sangrenta, da exploração material desavergonhada.

O materialismo é a bandeira de igualdade econômica e da justiça social. Pelo contrario, a bandeira do materialismo teórico, a bandeira vermelha da igualdade econômica e da justiça social, é implantada pelo idealismo prático das massas oprimidas e famélicas que tentam por em prática a mais alta liberdade e realizar o direito de cada indivíduo em fraternidade de todos os homens sobre a terra.

Os verdadeiros idealistas e materialistas. Quem são os verdadeiros idealistas, não os idealistas da abstração mas sim os da vida, não os idealistas do céu, mas sim os da terra e quem são os materialistas?
É evidente que a condição essencial do idealismo teórico ou divino é o sacrifício da lógica e da razão humana, e a renúncia da ciência. Por outro lado, ao defender as doutrinas do idealismo nos vemos arrastados ao campo dos opressores e exploradores das massas. São duas grandes razões que, ao que parece, deveriam ser suficientes para afastar o idealismo de qualquer grande espírito ou de todo grande coração. Como entender que nossos ilustres idealistas contemporâneos, a quem sem dúvida não falta nem espírito, nem coração, nem boa vontade, que tem colocado suas vidas a serviço da humanidade, persistam em estar entre os representantes de uma doutrina condenada e desonrada?
Devem ser impulsionados por motivos muito fortes.
Estes motivos não podem corresponder a lógica nem a ciência, porque a lógica e a ciência pronunciaram seu veredicto contra a doutrina idealista e é razoável pensar que os interesses pessoais não podem contar entre seus motivos, porque essas pessoas estão infinitamente por cima dos interesses particulares. Deve existir então um poderoso motivo de ordem moral. Qual? Só pode ser um: Estas pessoas tão inteligentes pensam, sem dúvidas, que as teorias e crenças idealistas são essenciais para a dignidade e a grandeza moral do homem, e que as teorias materialistas os conduzem ao nível de besta.

Mas, e se fosse justamente o contrário? Todo desenvolvimento implica a negação de seu ponto de partida, e posto que o ponto de partida é material, segundo a doutrina da escola materialista, a negação deve ser necessariamente ideal. Começando pela totalidade do mundo real, ou pelo que se denomina abstratamente de matéria, o materialismo chega logicamente a verdadeira idealização, isto é, a humanização, a plena e completa emancipação da sociedade. Por outro lado, e pela mesma razão, o ponto de partida da escola idealista é ideal e chega necessariamente a materialização da sociedade, a organização de um despotismo brutal e uma exploração vil e iníqua nas formas da Igreja e do Estado. O desenvolvimento histórico do homem com base na escola materialista é uma progressiva ascensão, enquanto o sistema idealista não pode ser mais que uma contínua queda.

Pontos de divergência entre materialismo e idealismo. Seja qual for a questão relativa ao homem que examinemos, sempre chegaremos a mesma contradição básica entre essas duas escolas. O materialismo começa pela animalidade para chegar a estabelecer a humanidade; o idealismo começa pela divindade para chegar a estabelecer a escravidão, e condenar as massas a uma animalidade perpétua.

O materialismo nega o libre arbítrio e termina no estabelecimento da liberdade. O idealismo, em nome da dignidade humana, proclama o libre arbítrio e descobre a autoridade sobre as ruínas de toda liberdade. O materialismo rechaça o principio da autoridade, concebendo-o frontalmente como corolário da animalidade e crendo, pelo contrario, que o triunfo da humanidade – considerado pelo materialismo como o objetivo principal e como o significado da história só pode se realizar através da liberdade. Em uma palavra, ao tratar de qualquer questão, sempre encontraremos ao idealista afundado no materialismo prático, enquanto que sempre veremos o materialismo perseguindo e realizando as aspirações e pensamentos mais ideais.
O idealismo é o déspota do pensamento, do mesmo modo que a política é a déspota da vontade. Só o socialismo e a ciência positiva mostram o devido respeito para a Natureza e a liberdade dos homens.

O marxismo e suas falácias. A escola doutrinária de socialistas, ou melhor, os comunistas estatais da Alemanha… Representam uma escola bastante respeitável, circunstancia que não a exime, sem dúvida, de cair ocasionalmente em erros. Uma de suas falácias principais é ter como base teórica um principio completamente certo quando se concebe de maneira apropriada, isto é, de um ponto de vista relativo, mas que se volta radicalmente falso quando o considera isolado das demais condições e se mantém como o único fundamento e fonte primária de todos os demais princípios, segundo acontece nessa escola.
Este principio, que constitui o fundamento essencial do socialismo positivo, recebeu pela primeira vez sua formulação científica e seu desenvolvimento do Sr. Karl Marx, chefe principal dos comunistas alemães. Constitui a ideia dominante do famoso Manifesto Comunista.
Marxismo e idealismo. Este principio se encontra em contradição absoluta com o principio admitido pelos idealistas de todas as escolas. Enquanto os idealistas deduzem todos os fatos históricos incluindo o desenvolvimento de interesses materiais e os diversos estágios de organização econômica da sociedade e do desenvolvimento das ideias, os comunistas alemães veem em toda a história e nas manifestações mais ideias da vida humana tanto coletiva como individual, em todos os desenvolvimentos intelectuais, morais, religiosos, metafísicos, científicos, artísticos, políticos e sociais acontecidos no passado e no presente só o reflexo ou o resultado inevitável do desenvolvimento dos fenômenos econômicos. 
Enquanto que os idealistas consideram as ideias como fonte produtora e dominante dos fatos, os comunistas, plenamente de acordo com o materialismo científico, mantém, ao contrario, que os fatos produzem as ideias, e que as ideias são sempre unicamente o reflexos ideais dos acontecimentos; que o conjunto total de fenômenos, os fenômenos econômicos materiais constituem a base essencial, o fundamento primário, enquanto todos os demais fenômenos intelectuais e morais, políticos e sociais aparecem como derivados necessariamente dos primeiros.

Quem está certo, os idealistas ou os materialistas? Quem está certo? Os idealistas ou os materialistas? Quando a pergunta de traça dessa forma, a dúvida resulta impossível. Indubitavelmente os idealistas estão equivocados e os materialistas estão certos. Sem dúvidas, os fatos vêm antes que as ideias, sem dúvidas, como disse Proudhon, o ideal não é senão a flor cujas raízes estão enterradas nas condições materiais de existência. Sem dúvidas, toda história intelectual e moral, política e social humana não é senão o reflexo de sua história econômica.
Todos os ramos da ciência moderna, de uma ciência minuciosa e séria, estão de acordo em proclamar esta grande verdade, básica e decisiva: O mundo social, o mundo puramente humano, a humanidade, não é senão o último e supremo desenvolvimento pelo menos no que diz respeito a nosso próprio planeta e a mais alta manifestação da animalidade. Mas assim como o desenvolvimento implica necessariamente a negação de sua base ou ponto de partida, a humanidade é ao mesmo tempo a negação acumulativa do princípio animal no homem, e é precisamente esta negação, tão racional como natural, e racional precisamente por ser natural a um tempo histórico e logico, tão inevitável como o desenvolvimento e a consumação de todas as leis naturais do mundo o que constitui e cria o real, o mundo e as convicções intelectuais e morais, o mundo das ideias.

O primeiro dogma do materialismo. “Mazzini” afirma que os materialistas são ateus. Nada temos que falar sobre isso porque de fato somos ateus, e nos orgulhamos disso, ao menos na medida em que pode permitir-se o orgulho a indivíduos miseráveis que como ondas se elevam por um momento e logo desaparecem no vasto oceano coletivo da sociedade humana. Nos orgulhamos disso porque o ateísmo e o materialismo são a verdade, o melhor, a efetiva base da verdade, e também porque desejamos a verdade e somente a verdade por cima de todos os demais e por cima das consequências práticas e além disso cremos que apesar das aparências, apesar das covardes insinuações de uma política de cautela e ascetismo, só a verdade trata consigo um bem-estar prático pra o povo.
Este é o primeiro dogma de nossa fé. Mas olhe adiante, até o futuro, e não para trás.

O segundo dogma do materialismo. De todas as formas, “Mazzini” não se conforma com nosso ateísmo e materialismo; deduz dele que não podemos amar as pessoas nem respeitá-las por suas virtudes; que as grandes coisas que fizeram vibrar os mais nobres corações – a liberdade, a justiça, a humanidade, a beleza, a verdade dever ser todas tiradas de nós, e que obrigando sem meta alguma nossa miserável existência – arrastando-nos mais que andando direito sobre a terra não temos preocupação alguma salvo gratificar nossos primitivos e sensuais apetites.

E nós lhe dizemos, venerável, mas injusto mestre “Mazzini”, que está em um lamentável erro. Quer saber em que medida amamos estas coisas grandes e belas, cujo conhecimento e amor nos nega? Entende que nosso amor por elas é tão forte que de todo coração estamos doentes e cansados vendo-as para sempre suspensas em seu céu que as roubou da terra como símbolos e promessas nunca cumpridas. Já não nos contentamos com a ficção dessas belas coisas; as queremos em realidade.
E aqui está o segundo dogma de nossa fé, ilustre mestre. Cremos na possibilidade e na necessidade da miserável concretização sobre a terra; e ao mesmo tempo, estamos convencidos de que todas estas coisas que você venera como esperanças celestiais perderão necessariamente seu caráter místico e divino quando se converterem em realidades humanas e terrestres.

A matéria do idealismo. Vós pensais que havia desfeito completamente de nós chamando-nos de materialistas. Pensava que assim nos condenava e esmagava. Mas vós sabeis de onde provém esse erro sujo? O que você e nós chamamos de matéria são duas coisas totalmente distintas, dois conceitos totalmente diferentes. Sua matéria é uma identidade fictícia como seu Deus, como seu Satã, como sua alma infinita. Sua matéria é grosseria infinita, brutalidade inerte, uma entidade tão impossível como o espírito puto, incorpóreo e absoluto; os dois existem só como invenções da abstrata fantasia dos teólogos e metafísicos, únicos autores e criadores de ambos os inventos. A história da filosofia nos revelou o processo – de fato um processo simples de criação inconsciente desta ficção, a origem desta fatal ilusão histórica, que durante o vasto transcurso de muitos séculos pende gravemente, como um terrível pesadelo, sobre as mentes oprimidas de gerações humanas.

O espírito e a matéria. Os primeiros pensadores foram necessariamente teólogos e metafísicos, pois a mente humana está constituída de tal maneira que sempre deve começar com uma grande margem de absurdos, falsidade e erros para conseguir chegar a uma pequena porção de verdade. Todo o qual não fala em favor das tradições sagradas do passado. Os primeiros pensadores, digo, tomaram a soma de todos os seres reais conhecidos por eles, incluindo eles mesmos, a soma de tudo o que lhes parecia representar a força, o movimento, a vida e a inteligência, e chamaram de “espírito”. Todo o resto de que sua mente tinha abstraído inconscientemente do mundo real, chamaram-no de matéria, e então se assombraram que esta matéria que existia somente em sua imaginação, como o próprio espírito, fosse tão inativa, não estúpida frente a seu Deus, o puro de espírito.

A matéria dos materialistas. Admitamos francamente que não conhecemos a seu Deus, mas tampouco conhecemos sua matéria; ou, melhor ainda, sabemos que nenhum dos dois conceitos existe, sim que foram criados a priori pela fantasia especulativa de pensadores ingênuos de épocas passadas. Com as palavras matéria e material queremos indicar a totalidade, a hierarquia dos entes reais, começando pelos corpos orgânicos mais simples e acabando com a estrutura e o funcionamento do cérebro dos maiores gênios; os sentimentos mais sublimes, os maiores pensamentos, os atos mais heroicos, atos de auto sacrifício, deveres tanto como direitos, a voluntária renúncia ao próprio bem-estar, ao próprio egoísmo até as aberrações transcendentais de Mazzini, assim como as manifestações da vida orgânica, as propriedades e ações químicas, a eletricidade, a luz, o calor, a gravidade natural dos corpos, o que constitui, a nosso entender, um conjunto muito diferenciado, mas ao mesmo tempo estritamente relacionado, de evoluções dentro dessa totalidade do mundo real que denominamos material.

O materialismo não é um panteísmo. E observe-se que bem que não consideremos a esta totalidade como uma espécie de substância absoluta e eternamente criativa, ao modo, dos panteístas, mas sim como um perpétuo resultado produzido e reproduzido de novo pela concorrência de uma infinita série de ações e reações, pelas incessantes transformações dos seres reais que nascem e morrem como o seio desta infinitude.

A matéria compreende o mundo ideal. Resumirei: Indicamos com a palavra material tudo o que acontece no mundo real, dentro e fora do homem, e aplicamos a palavra ideal exclusivamente aos produtos da atividade cerebral do homem; mas posto que nosso cérebro é por inteiro uma organização de ordem material e sua função é também material, como a ação de todas as demais coisas, se deduz dele que o que chamamos de matéria ou mundo material não exclui de modo algum, mas sim que inclui necessariamente também o mundo ideal.

Materialistas e idealistas na prática. Aqui está. Um fato que merece uma atenta reflexão por parte de nossos adversário platônicos. A que se deve que os teóricos do materialismo acostumem-se a se demostrarem na prática mais idealistas que os próprios idealistas? Este paradoxo é, de todas as formas, bastante lógico e natural. Porque todo desenvolvimento implica em alguma medida uma negação do ponto de partida; os teóricos do materialismo começam com o conceito de matéria e desembocam na ideia, enquanto os idealistas, que adotam como ponto de partida a ideia pura e absoluta, reiterando constantemente o velho mito do pecado original única expressão simbólica de seu próprio e triste destino recaem teórica e praticamente no domínio da matéria que, ao seu entender, nos tem irremissivelmente entrelaçados em nós, e que matéria! Uma matéria brutal, ignóbil e estúpida, criada por sua própria imaginação como seu alter ego, ou como a reflexão do seu ideal.
Do mesmo modo, os materialistas, que sempre harmonizaram suas teorias sociais com o curso efetivo da história, concebem o estágio animal, o canibalismo, e a escravidão como os primeiros pontos de partida no movimento progressivo da sociedade; mas a que apontam? O que querem? Querem a emancipação, a plena humanização da sociedade; enquanto que os idealista, adotando a premissa básica de suas especulações da alma imortal e a autonomia da vontade, terminam inevitavelmente no culto da ordem pública, como Thiers, ou no culto da autoridade, como Mazzini; isto é, no estabelecimento e a canonização de uma escravidão perpétua. Daqui se deduz que o materialismo teórico desemboca necessariamente no idealismo prático, e que as teorias idealistas unicamente encontram sua realização em um rudimentar materialismo prático.
Ontem mesmo se mostrou ante nossos olhos a prova do que acabamos de dizer. Onde estavam os materialistas e ateus? Na comuna de Paris e onde estavam os idealistas que creem em Deus? Na Assembleia Nacional. A de Versalhes. O que queriam os revolucionários de Paris? Queriam a emancipação definitiva da humanidade através da emancipação do trabalho. E o que querem atualmente? Na triunfante Assembleia de Versalhes? A degradação definitiva da humanidade sob o duplo jugo do poder espiritual e secular.
Os materialistas querem avançar, imbuídos de fé e desprezando o sofrimento, o perigo e a morte, porque veem ante eles o triunfo da humanidade, mas os idealistas sem impulso e pressagiando unicamente espectros sangrentos, querem levar de qualquer forma a humanidade, de novo: até o lodaçal de onde saiu com tão grandes dificuldades.
Que cada qual compare e forme sua opinião.

* Os trechos em negrito são os tópicos desenvolvidos por G. P. Maximoff. Todo o resto é de autoria de Mikhail Bakunin.

sábado, 28 de fevereiro de 2015

Apoie o lançamento de obras anarquistas!


O coletivo Rizoma Editorial, em parceria com o Grupo de Estudos Anarquistas do Piauí (GEAPI)  está dando início a uma nova campanha de financiamento coletivo a fim de arrecadar recursos para a publicação de um novo título, que já está pronto para impressão: a reedição da obra "Anarquismo - Da Doutrina à Ação", de Daniel Guérin.

Trata-se de uma obra clássica, do célebre anarquista francês (que foi um dos mais lúcidos pensadores anarquistas do século 20), publicada pela última vez no Brasil em 1968 pela extinta editora carioca Germinal e esgotado há décadas.



A campanha de financiamento coletivo será realizada por meio do site da Vakinha. As contribuições terão o valor mínimo de R$ 5,00 (cinco reais) e poderão ser feitas por meio de cartão de crédito, transferência eletrônica ou boleto bancário. Contribuições a partir de R$ 20,00 (vinte reais) serão consideradas como “pré-vendas” e darão, a quem doar, o direito a um exemplar do livro para o qual for feita a doação (já incluído o valor do frete).  Quem fizer a compra antecipada, por meio da doação do valor promocional acima, será oportunamente contactado por e-mail para a obtenção do endereço postal para envio do exemplar.

A campanha terá a duração de seis meses, ao fim dos quais os recursos arrecadados serão aplicados na  impressão dos livros - ou, caso sejam superadas as metas de arrecadação, revertidas para a impressão de novas tiragens de outras obras nossas que estejam esgotadas ou com o estoque baixo. Ao final da campanha, a prestação de contas referente à destinação dos valores arrecadados será publicada aqui no blog da Rizoma Editorial, ficando à disposição para análise de nosso público leitor.

A divulgação da campanha será efetuada através de e-mail e das redes sociais das quais participamos (Facebook e Twitter).

Contamos com a colaboração de tod@s @s companheir@s leitor@s para viabilizar este projeto e continuar contribuindo com  a divulgação da cultura libertária, rumo à transformação revolucionária da sociedade!