terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Ano novo - o que muda?



Em linhas gerais, nada. Partindo de uma perspectiva de análise histórica, sabemos que o calendário que finda no dia de hoje (31) é meramente um produto social. Lembremos que durante a Comuna de Paris, foi instaurado o Calendário da Revolução Francesa.

Porém, ao determinarmos qualquer forma de delimitação temporal, certas datas tornam-se importantes. Uma delas é o fim do ano, onde se festeja a vindoura etapa da vida que se aproxima. Mais que isso, tod@s analisam o que fizeram neste ano; conquistas, derrotas, perdas, ganhos, e projetam, a partir da experiência (negativa ou positiva), uma perspectiva do que anseiam no novo ano.

Tal balanço também nos é necessário, mas de forma coletiva. Obviamente, não alcançará a multiplicidade cultural, geográfica, populacional, ideológica e experiencial de todos os anarquistas. Tamanho determinismo seria desconsiderar a miríade de formas de ação e resistência libertária em todo o país.

É inegável. O ano de 2013 trouxe um sopro revolucionário para o país; este sopro não é novidade, uma vez que atormentou a vida dos burgueses durante a República Velha, preparou comitês antiguerra, montou ateneus, escolas modernas, organizou passeatas, grupos de estudos, jornais, panfletos, construíram barricadas, lutaram bravamente pelo que acreditavam, e, literalmente, deram o suor e o sangue pela causa. Este sopro é o sopro da anarquia, que permaneceu ativo durante todos os esses anos, em grupos, coordenações e alguns sindicatos, mas a visibilidade atingida nas manifestações foi algo surpreendente.

Temperada com bandeiras negras, molotov's, e black bloc's, as manifestações de junho abriram caminho para o (re)florecimento da ideologia revolucionária anarquista sob o solo brasileiro. Acompanhamos extasiados o ressurgimento desta corrente política, ideológica e filosófica, em meio a acusações infundadas vindo de lugares previsíveis, como os canais de TV, com suas falácias midiáticas, influenciando boa parte dos brasileiros a acreditarem em uma verdade fabricada pela voz da burguesia, usando o mesmo discurso dos jornais americanos durante o "Occupy Wall Street": Os black bloc's afastaram as pessoas das manifestações. A brutalidade do aparelho repressivo do Estado, que por onde passava, deixava um rastro de sangue, também deve ser lembrada. Enquanto que seus instrumentos de controle aperfeiçoavam-se, a população melhorava suas táticas de resistência. Há de se considerar também alguns -ditos- partidos de 'esquerda', que colaboraram significativamente para a criminalização dos movimentos mais combativos, deixando as máscaras caírem e ser percebido que o caráter reformista e eleitoreiro encobre o discurso 'revolucionário' dos mesmos. Em todas as partes do país, era possível perceber a inconformidade das pessoas com o sistema político. Afirmar que todos eram anarquistas seria no mínimo muito imbecil, mas, imbecilidade também seria desconsiderar a autonomia dos movimentos ante o discurso político-partidário, vencendo também a ferrugem das centrais sindicais tradicionais e de algumas organizações estudantis.

O ano que se aproxima traz com ele as 'negras tormentas' denunciadas pelos cânticos anarquistas advindos da Guerra Civil Espanhola; não que os outros anos tenham sido constituídos de paz e tranquilidade para os que lutam para a efetiva emancipação dos povos, porém, é inegável que o ritmo das contradições econômicas e sociais acelera-se ao passo em que os anos transcorrem-se. 

Não desconsideremos a realidade mundial; A crise capitalista dos Estados Unidos nunca foi, de fato, controlada; e embora não noticiada, a América do Norte está em um movimento tão intenso quanto o das Américas. A Europa avança cada vez mais para o colapso do sistema econômico; o risco da ascensão da besta nazifascista pode ser acompanhado na Grécia, Espanha e Portugal, principalmente; a Ucrânia, sem perspectivas de retirar-se das tensões econômicas, busca esquivar-se do já naufragado barco da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, tentando ligar-se à nau furada da União Europeia. Em países onde a crise se acirra, as proposições de Piotr Kropotkin, tornam-se reais quando afirma em seu livro, A Ajuda Mútua, um fator de evolução, que em ambientes onde as dificuldades são mais intensas, a tendência humana é de ajudar-se mutuamente; Com o início da crise, as okupações, centros de apoio e comunidades alternativas aumentaram, buscando dar auxílio, teto e alimento à imigrantes, desempregados, e formando frentes antifascistas, autogestionadas, combativas ao sistema capitalista e ao Estado.

O que urge fazer para o ano de 2014? Organização. Tornarmos ativos nas greves, associações de bairro, sindicatos, Centros e Diretórios Acadêmicos, Grêmios e outros campos. Criar grupos de debates, estudos, okupações, feiras libertárias, bibliotecas, cinematecas, etc., A anarquia só será possível com o esforço mútuo de tod@s os companheirxs. Organizemos pois, para que, munidos da teoria - e prática - libertária, possamos destruir as estruturas e ideologias burguesas. Como diz Bakunin,

“Ninguém pode querer destruir sem ter pelo menos uma imaginação distante, verdadeira ou falsa, da ordem das coisas que deveria, segundo ele, suceder à que existe presentemente: E quanto mais viva é a imaginação nele, mais forte se torna a sua força destrutiva, e mais ela se aproxima da verdade, isto é, mais conforme ao desenvolvimento necessário do mundo social atual, mais os efeitos da sua ação se tornam salutares e úteis”.

Façamos movimentos autônomos uns dos outros, porém interdependentes; autônomos, pois, em determinadas regiões do Brasil, quando o fogo das barricadas apagaram-se, apenas as fumaças recaíram sob as cidades que não estavam na confluência mostrada pelas redes sociais e mídias independentes; interdependentes no que cabe o espírito de solidariedade e internacionalismo anarquista, nunca deixando para traz um companheiro que luta ombro a ombro pela causa popular.

"Anarquizar o cotidiano para cotidianizar a anarquia"; e nestes termos, o "anarquizar" equivaleria a cada vez mais, unirmos fraternalmente, cooperativamente, e autonomamente. Enxergar em cada indivíduo o potencial positivo que o mesmo traz; lutar contra todas as formas de opressão, pois a cada passo dado à frente das desigualdades sociais, é um passo para o socialismo libertário.

Dedicamos este texto aos periféricos, aos marginais, aos oprimidos, aos desfavorecidos, aos desempregados, aos que o ‘sistema’ exclui, aos que lutam todos os dias para conseguir sobreviver na selvageria capitalista, ao trabalhador, ao campesino, aos que estão presos, e a todos os anarquistas.

Façamos de cada dia um “31 de dezembro”, sempre abrindo um leque de possibilidades para vencermos os entraves que impedem o pleno desenvolvimento das capacidades humanas: O capital e o Estado.

Resistir e lutar! Lutar pelo socialismo, e pela liberdade! Todo poder ao povo! Viva a anarquia!

Alexandre Santos - GEAPI Núcleo Parnaíba.


REFERÊNCIAS:

BAKUNIN, Mikhail. O Conceito de Liberdade. Porto: Rés limitada, 1975.
KROPOTKIN, Piotr. A ajuda mútua - Um fator de Evolução. São Sebastião: A Senhora Editora, 2006.
ROCA, André. Jovens seguem preceitos anarquistas mesmo sem saber, avalia historiador. in: notícias Terra. Disponível em: <http://noticias.terra.com.br/educacao/historia/jovens-seguem-preceitos-anarquistas-mesmo-sem-saber-avalia-historiador,78c3bd708ad5f310VgnVCM5000009ccceb0aRCRD.html>


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