segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

As relações econômicas de sexo - Voltairine de Clayre

(Com a colaboração mais que importante da companheira Maria Tereza, a tradução deste texto foi possível. Nós, do Grupo de Estudos Anarquistas do Piauí a agradecemos imensamente!!!)


Para o editor do The Open Court:

Possuidora de um pouco mais de interesse na questão entre os sexos, e concordando com o Professor Cope que qualquer proposta para a melhoria da condição das mulheres deve ser discutida e decidida por mulheres, eu sou movida a certas observações sugeridas pelo seu artigo "The Material Relations of Sex" no primeiro número de The Monist.

Durante toda a leitura fiquei impressionada com seu reconhecimento inconsciente de uma questão profunda, que, além da inferioridade da mulher, determina as relações entre os sexos. Isto é claramente evidente no parágrafo aludindo ao sistema comunista de produção e distribuição da riqueza, em que ele admite a possibilidade de relações sexuais promíscuas. Embora concorde com o Professor Cope que instituir o comunismo seria um golpe decidido no progresso, uma vez que o progresso consiste em uma ampliação constante da liberdade individual enquanto o comunismo invoca direção autoritária, no entanto, sustento em admitir a possibilidade de variedade nas relações sexuais sob o regime comunista, ele admitiu que o atual arranjo social do sexo é a consequência necessária de nossas condições econômicas.

Postulando o fato da inferioridade física e mental da mulher, o nosso escritor não vê possível ultimato para ela, mas o serviço de maternidade e de procriar em troca de "proteção e apoio" de algum homem ou conjunto de homens, chamado de "Estado". Isso nos leva imediatamente a duas questões fundamentais:

A inferioridade da mulher é a causa, ou o efeito, de sua sujeição econômica?

A independência econômica para as mulheres é um possível ideal?

Eu acho que pode ser claramente comprovado que a constituição mental da mulher, como a do homem, nunca deixou de aumentar onde restrições sobre a liberdade igualitária foram derrubadas. Sempre mulher teve a mesma oportunidade que o homem, os resultados provaram que suas capacidades para o desenvolvimento são tão ilimitadas quanto o dele. Pode-se objetar que estou instanciando casos excepcionais, em vez de lidar com tipos. Minha resposta é que só em casos excepcionais tenham apreciado as mulheres as mesmas oportunidades que os homens. Contudo estes casos são suficientemente numerosos para justificar a conclusão de que a natureza não oferece qualquer obstáculo insuperável para a igualdade dos sexos em relação ao cérebro, e que a "inferioridade" na mulher normal deve ser considerada como o resultado de sua condição econômica dependente, criada pelas restrições artificiais do homem.

Relacionando a incapacidade física dos sexos, é mais difícil mostrar os benefícios da liberdade, já que até as mais avançadas mulheres são tão atrapalhadas pela fragilidade, vestimenta, e costumes que nós mal temos dados suficientes para a opinião a respeito das possibilidades dela de desenvolvimento físico. Assim como nós poderíamos indicar que grande parte da atual incompetência durante os períodos de gestação e amamentação, é devido ao defeituoso atual arranjo social que condena a mulher ao penoso trabalho doméstico individual, e todo trabalho submisso da muito elogiada vida familiar.

Entretanto, até a inferioridade física não é prova da eterna barreira para a independência econômica que o professor Cope faz disso. O progresso industrial de hoje não exige muito de força física como a habilidade. Sem dúvida o elefante tem força física superior que a do homem, já que ele não é concorrente do homem eu não preciso perder tempo para demonstrar. Da mesma forma o Hercules dos tempos passados poderia não ter lugar na competitiva indústria de hoje, simplesmente porque ele poderia não estar adaptado a esse ambiente. Concedendo a presente invalidez física da mulher, isso de modo algum segue que, com oportunidade igual, ela seria incapaz de competir com o homem nos campos da indústria produtiva. De fato, uma afirmativa comum dos operários é a de que eles se mantêm competindo e de que, pela lei da sobrevivência do mais adaptável, já expulsaram homens de diversos ramos de empregos, como indústrias têxteis, sapatarias, etc. Nenhuma grande quantidade de força é necessária, exceto habilidade e paciência, e é essa a evidencia universal dos fiscais de que mulheres são igualmente hábeis e mais confiáveis.

Existe uma classe de reformadores econômicos chamados anarquistas que argumentam que, com oportunidade para explorar a natureza lançada livre para a raça humana, as horas de trabalho seriam reduzidas a ponto de permitir alguém produzir o suficiente para satisfazer todas as suas necessidades em três horas de trabalho por dia. Isso com nosso maquinário atual, as possibilidades de redução futuras são deixadas para desenvolvimentos futuros. Eles também argumentam que tal liberdade deve necessariamente resultar na constante trabalho-demanda, assim assegurando o trabalhador contra o atual pesadelo da desocupação involuntária. Sob tais condições, tendo em mente que a constante de deslocamento de força física pelas máquinas, mantem reduzindo a responsabilidade física de trabalho produtivo, a independência econômica das mulheres se torna um ideal concebível e toda questão de associação de sexos muda. Quando a mulher compreender sua independência, casamento não será mais uma questão de “proteção e suporte,” que o professor Cope declara ser a base de ser uma esposa monogâmica. Isso se tornará uma questão de mutual cooperação, baseada, nos deixa esperar por algo melhor que a venda dos poderes da maternidade, e reivindicando a mesma bandeira para homem e para mulher.

Se a monogamia ou variedade irá então obter, depende de qual desses sistemas produz o melhor tipo de humanidade. No presente isso é impossível decidir, uma vez que sem independência da mulher não pode haver igualdade, e sem igualdade, nenhum verdadeiro ajuste relações de sexos.

Voltarine de Cleyre



domingo, 16 de fevereiro de 2014

Apoie o lançamento das obras anarquistas!


Vamos fazer uma vaquinha libertária?

O livro “Formação da Identidade Cultural Anarquista Através do Periódico A Luta de Porto Alegre (1906-1911)” estuda a formação do movimento libertário na cidade de Porto Alegre no início do século XX, mais precisamente entre os anos de 1906 – 1911. É uma obra que parte de um trabalho acadêmico, porém, com a proposta de socializar a produção e a pesquisa realizada ao longo deste “cultivo”.

É desta forma que se propagandeia ela, pois é pertinente sempre destacar a dificuldade em publicar um livro no Brasil, seja pela falta de interesse da população em geral, ou ainda, pelos valores exorbitantes que a burocracia (imposta pela academia) nos aplica. E ainda quando se trata de um assunto marginalizado pelas elites (intelectuais e econômicas) que ocupam uma espécie de nuvem bloqueando as produções que não lhes apetecem ou que não lhes são úteis. Porém, é importante frisar que há produções muito significativas, mesmo com todas estas dificuldades. Enfim, partindo destas considerações, se pede o auxílio dxs companheirxs para o lançamento da obra supramencionada.


A obra. 


Já sobre a obra em específico, destaca-se que há os estudos em cima do jornal A Luta, produção libertária originada em Porto Alegre em 1906, um pouco antes da greve que agitou a cidade neste ano. E por ser uma obra rica de detalhes peculiares, foi possível estudar a religiosidade, o cientificismo, a educação, algumas questões de gênero e a participação infantil como mão-de-obra. Além de, por exemplo, discutir alguns pontos curiosos, como o combate ao alcoolismo e as festas “burguesas”.
Esta é uma obra que visa estudar as reflexões e os pensamentos quanto as ações a partir do cotidiano dos agentes desta história. E, por razões já mencionadas, venho pedir o auxílio de todxs que de alguma forma possam colaborar com esta realização. 

O livro estará sendo publicado com a Rizoma Editorial, um coletivo libertário carioca. O meio é uma “vaquinha” virtual em sítio que propõe este tipo de serviço.
Para reforçar e apresentar a vocês o coletivo Rizoma Editorial, anexo o link do blog, do Facebook e do sítio que estamos realizando a “vaquinha”. E como funcionam os valores da colaboração? Assim, não há lucro de minha parte nem do coletivo, então, por solidariedade aos que desejarem doar podem o fazer com R$5,00 para mais, porém, se caso você doar R$20,00, você ganha um exemplar com frete grátis ao ser publicado.

Grato desde imediato pela atenção e colaboração de todxs!

Saudações Libertárias!

Vamos fazer uma "vaquinha"?

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

O SINDICATO: "Uma instituição burguesa como outra qualquer" e sua crise de representatividade.


De início, uma advertência aos incautos: O subtítulo é uma sátira a uma afirmação do atual presidente do Sindicato dos Servidores Municipais de Teresina (SINDSERM), onde o mesmo, durante uma conversa, declarou que o sindicato "é uma instituição burguesa como outra qualquer".

"Não é novidade que as táticas sindicais não somente estão enferrujadas, como também  não dialogam com práticas que deveriam garantir a defesa e inclusão dos trabalhadores. A busca por novas formas de gerenciamento, assim como métodos que façam com que efetivamente os anseios dos sindicalizados sejam atendidos foram deixados de lado, por vezes sendo substituídos por uma tentativa grotesca de manutenção e perpetuação do poder dentro de determinada associação de amparo dos setores laborais. Por vezes, estas querelas são travadas por dispositivos que pleiteiam as eleições burguesas por meio do sufrágio universal, o que transforma o sindicato em uma guerrilha partidária.

Talvez, essa realidade possa ser encontrada em outros sindicatos no Brasil e fora dele,  porém, o companheiro Franz Ícaro lança seu olhar sobre o Sindicato dos Servidores Municipais de Teresina, o SINDSERM, e com um misto de coloquialidade, termos teóricos e ironia, costura sua perspectiva acerca deste entrave dentro de seu sindicato, buscando suscitar o debate acerca da importância da retomada de um sindicalismo pautado nos interesses da base, buscando a ampliação desta, e que efetivamente seja  autônomo, classista e combativo". - Alexandre Santos


Clique na imagem acima para fazer o download do livreto.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

O anarcofeminismo: Pensando em anarquismo, Deirdre Hogan

Um princípio importante do anarquismo e o que é mais diferente dos outros tipos de socialismo é a ênfase na liberdade e as relações sociais não hierárquicas. É vital no anarquismo a rejeição de qualquer hierarquia de poder entre homens e mulheres. Os anarquistas acreditam que a liberdade de um está baseada na liberdade de todos, então não pode existir sociedade anarquista sem a extinção de todas as estruturas de dominação e exploração, incluindo naturalmente opressão das mulheres. Como anarquistas, acreditamos que os meios de determinam os fins. Isso significa que nós não esperamos uma revolução vindoura para resolver os problemas de sexismo, mas vemos que é importante para lutar contra ele aqui e agora. Como anarquistas, nos esforçamos para garantir que ambas, nossas próprias organizações e também aquelas campanhas em que estamos envolvidos, estejam livres de sexismo e hierarquias de poder e que todos os membros têm igual poder de decisão e ação. 

Reconhecemos que a plena participação das mulheres no movimento anarquista e nas lutas sociais atuais é muito importante. Para construir a sociedade do futuro as mulheres devem estar envolvidas em sua criação e, é claro, sem a participação de metade da população não haverá revolução social. Como acreditamos que a emancipação da classe trabalhadora será obra da classe trabalhadora, também vemos que, essencialmente, o desenvolvimento, a liberdade, e a independência da mulher devem vir de si mesmas. Engajar-se na luta política como um ato de fortalecimento. Muitas mulheres na sociedade de hoje não creem que podem ter um papel fundamental para mudar as coisas. No entanto, se envolver, sendo parte - agitando, educando e organizando - nós começaremos a tomar o controle de nossas próprias vidas no processo ativo de luta para mudar a sociedade injusta em que vivemos. 

Somente em uma sociedade anarquista trabalha a base para que a opressão da mulher deixe de existir. Isso ocorre porque as mulheres, devido seu papel reprodutivo, sempre serão mais vulneráveis  que os homens na sociedade capitalista, que se baseia na necessidade de aumentar os lucros. O direito ao aborto, licença maternidade remunerada, instalações de berçário e creche, etc., Em suma, tudo o que seria necessário para garantir a igualdade econômica para as mulheres sob o capitalismo, sempre será especialmente relevante para as mulheres. Portanto, em geral, as mulheres são vistas como 'menos econômicas' do que os homens e mais suscetíveis a ataques sobre os ganhos, como são as instalações em berçários, etc. 

Além disso, as mulheres não podem ser livres até que tenham total controle sobre seus próprios corpos. Mesmo sob o capitalismo, o direito ao aborto nunca são garantidos. Mesmo que haja progresso nesta área elas podem ser atacadas, como ocorre com o direito ao aborto nos EUA. A opressão das mulheres sob o capitalismo tem, assim, uma base econômica e sexual. A partir dessas raízes, as causas da opressão das mulheres, outras formas de opressão, como por exemplo, a opressão ideológica das mulheres, a violência contra as mulheres, etc. Isso não significa dizer que os pensamentos sexistas simplesmente desaparecerão com o fim do capitalismo, mas apenas com o fim do capitalismo podemos livrar a sociedade de um prejuízo institucional que continua propagando e promovendo sexismo. 

Como uma sociedade anarquista não será impulsionado pelo lucro, então, por exemplo, não haverá nenhuma sanção econômica para ter filhos ou quer passar mais tempo com eles. O acolhimento de crianças, trabalho doméstico, etc., Pode ser visto como uma responsabilidade de toda a sociedade e, assim, dar às mulheres e aos homens mais opções em geral. 

Anarquismo/anarcofeminismo¹ liga a luta contra a exploração de classe e a opressão das mulheres. A verdadeira liberdade, para mulheres e homens, só pode ser alcançada por uma sociedade sem classes, onde os locais de trabalho são autogeridos, a propriedade privada é abolida e as pessoas que tomam as decisões são as mesmas pessoas que são afetadas por elas. 

É evidente que a luta pela liberdade das mulheres exige uma luta de classes por parte dos trabalhadores/as. E, inversamente, a guerra entre as classes só pode dar frutos se ao mesmo tempo se desenvolve uma luta para libertar as mulheres da opressão. 

 ¹ Anarquismo e anarcofeminismo é a mesma coisa, o segundo só enfatiza o feminismo que há no primeiro.


Fonte: Anarco-Feminismo: Pensando en anarquismo, Deirdre Hogan (The anarchist library)

A mulher, o matrimônio e a família - Mikhail Bakunin

Igualdade de direitos para as mulheres. Sou partidário, da emancipação plena das mulheres e sua igualdade social com os homens.

A expressão "igualdade social com os homens" implica que, juntamente com a liberdade, pedimos iguais direitos e deveres para o homem e para a mulher, ou seja, o nivelamento dos direitos das mulheres, tanto político como econômico e social, com os do homem, em consequência, desejamos a abolição da lei familiar e matrimonial, e da lei eclesiástica tanto quanto a civil, indissoluvelmente ligadas ao direito de herança.

Abolição da família jurídica. Ao aceitar o programa revolucionário anarquista - único que oferece, ao nosso entender, as condições para a emancipação real e completa do povo comum - e convencidos de que a existência do Estado, sob qualquer forma, é incompatível com a liberdade do proletariado e impede a união internacional fraterna das nações, expressamos a necessidade de abolição de todos os Estados.

A abolição dos Estados e do direito jurídico implicará necessariamente a abolição da propriedade individual hereditária e da família jurídica com base nesta propriedade, porque nenhuma dessas instituições suporta a justiça humana.

Livre união matrimonial. [Contra o casamento por compulsão levantamos a bandeira da união livre.] Estamos convencidos de que, abolindo o casamento religioso, civil e jurídico, restauraremos a vida, a realidade e a moralidade casamento natural com base unicamente no respeito humano e na liberdade de duas pessoas: Um homem e uma mulher que se amam. Acreditamos que, ao reconhecer a liberdade de ambos os cônjuges para separarem-se quando quiserem, sem pedir permissão de ninguém para fazê-lo - e ao negar da mesma forma a necessidade de qualquer permissão para juntar-se em casamento, e rejeitar em geral a interferência de qualquer autoridade nesta união - unimo-os mais um ao outro. E estamos convencidos também, de que quando já não exista entre nós o poder coercitivo do Estado para forçar os indivíduos, associações , comunas, províncias e regiões para conviver contra a sua vontade , haverá entre todos uma união muito mais estreita, uma unidade mais viva, real e poderosa do que a imposta pelo esmagador poder estatal.

A educação das crianças. Com a abolição do matrimônio, surge a questão da educação das crianças. Sua educação, desde a gravidez da mãe até a maturidade, e formação e educação, igual para todos - uma formação intelectual e industrial onde se combinem a capacitação para o trabalho manual e mental - devem corresponder fundamentalmente à sociedade livre.

A sociedade e as crianças. As crianças não são propriedade de ninguém, nem seus pais, nem a sociedade. Só pertencem a sua própria liberdade futura. Mas nas crianças esta liberdade ainda não é real; é apenas uma liberdade potencial. Pois uma liberdade real - isto é, a consciência plena e sua realização em cada indivíduo, baseada principalmente no sentido da própria dignidade e em um autêntico respeito pela liberdade e dignidade dos outros, ou seja, baseada na justiça - somente pode ser desenvolvida nas crianças através do desenvolvimento racional da sua inteligência, caráter e vontade.

Conclui-se que a sociedade, cujo futuro depende inteiramente da adequada educação e instrução das crianças e que, portanto, não só tem o direito, mas também a obrigação de cuidar delas, é o única guardiã das crianças de ambos os sexos. E como a futura abolição dos direitos de herança converterá a sociedade como a única herdeira,  esta terá que consider como uma de suas primeiras obrigações o fornecendo todos os meios necessários para a manutenção, formação e educação de crianças de ambos os os sexos, independentemente da sua origem ou de seus pais.

Os direitos dos pais se limitarão a amar seus filhos e exercer sobre eles a única autoridade compatível com esse amor, na medida em que esta autoridade não prejudique a sua moralidade, seu desenvolvimento mental ou sua liberdade futura. O casamento como ato civil e político, como qualquer outra intervenção da sociedade em questões amorosas, está destinado a desaparecer. As crianças serão confiadas - por natureza, e não por direito - às suas mães, sendo a prerrogativa destas sob a supervisão racional da sociedade.


Fonte: La mujer, el matrimonio y la família, Mijaíl Bakunin. The anarchist library.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Saiam de nossas mentes - Tese apresentada no CONEUFPI

Nós, Grupo de Estudos Anarquistas do Piauí, GEAPI - Núcleo Teresina, participamos do Congresso de Estudantes da UFPI (CONEUFPI) e construímos uma tese que visa abordar alguns problemas acerca da militância discente, assim como soluções para distribuir o poder estudantil para os estudantes:


  • TESE DE DESCENTRALIZAÇÃO DO DCE

1. As jornadas de junho trouxeram a percepção de uma crise estrutural societária e de aparelhos de representatividade tanto no âmbito estudantil, quanto movimentos sociais e sindicais. Esta crise deflagrou um momento de negação das entidades, que encontram-se burocratizadas e aparelhadas ideologicamente, objetivando a hegemonia de determinados pensamentos centralizadores e dogmáticos daquele espaço, em detrimento da sua função primordial de defesa da coletividade estudantil, trabalhista e popular.

2. Esta situação é percebida facilmente quando determinados grupos priorizam a disputa por cargos gerenciais dentro dessas universidades, e publicisam estas conquistas como vitórias históricas e pontais da classe trabalhadora/estudantil, mesmo que, em realidade, estas conquistas não consigam sequer atender as demandas estudantis locais.

3. O modelo atual de diretório se pauta na verticalidade e centralização das decisões, arranjo defendido e respaldado pelos grupos políticos que disputam a democracia representativa estatal e sindical, baseados em direcionismos e hierarquização, utilizando-se do movimento estudantil para auto-promoção partidária em eleições futuras.

4. Ao passo disso, observamos tais agrupamentos que obedecem a lógica supracitada no parágrafo anterior: ANEL (PSTU); Rompendo Amarras (PSOL); UJR (PCR); UJS (PCdoB) JPT (PT). Embora não reivindiquem fazer parte de tais partidos, fica evidente pela materialidade da realidade que os dirigentes e parte considerável dos membros destes coletivos e/ou entidades estudantis compõem os partidos citados anteriormente.

5. As conseqüências desse tipo de administração, embasados na hegemonia do pensamento político-partidário, trazem resultados negativos para o movimento estudantil como um todo, quais sejam estes resultados:

6. Desmobilização estudantil: Nos últimos anos, a pratica desses grupos tem desmotivado propositalmente a participação e oxigenação dos movimentos estudantis, por conta das tomadas de decisões que não dialogam com os estudantes, privilegiando as proposições destes.

7. Falta de combatividade: Isto acontece por conta da falta de uma agenda própria de lutas estudantis, em detrimento de pautas particulares ao interesse desses partidos, onde a “combatividade” dá lugar à uma produção de notas de repúdio que não dialogam com as bases. Tendo como objetivo a divulgação dos ideais do partido, estes agrupamentos abdicam de ações mais radicais e que possam ter uma maior efetividade nos objetivos buscados.

8. Sectarismo: A partir desta questão traçada, o sectarismo é ponto decisivo nestes partidos, visto que, apenas abordam as decisões imutáveis vindas de suas pequenas cúpulas, rechaçando qualquer pensamento contrário ou complementar, afirmando a falta de democracia participativa para além de membros e/ou simpatizantes destes partidos.

9. Negação/descrédito do estudante em relação ao movimento estudantil: Os partidos se distanciaram da naturalidade política, e por conta de uma violenta burocratização, a população distanciou-se da construção política social, por julgar esta uma tarefa ligada unicamente ao político-partidarismo, não observando uma miríade de possibilidades para além disto.



  • A PROVOCAÇÃO.

1. Observando as afirmativas citadas acima, nós Grupo de Estudos Anarquistas do Piauí (GEAPI-Núcleo Teresina), em reunião e debate sobre a realidade do movimento estudantil no Brasil e na UFPI viemos por meio desta tese circular livre, horizontal e aberta apresentar e defender uma proposta de dissolver a diretória executiva e descentralizar o gerenciamento do Diretório Central dos Estudantes (DCE-UFPI Teresina).

2. A descentralização é uma forma de distribuir o poder, voz e decisão para comunidade discente. Compreendemos a necessidade, importância e urgência da articulação da movimentação dos centros acadêmicos e estudantes como um todo. A nossa idéia é fundamentada na auto-organização destes, uma vez que essa burocracia impede a participação estudantil que não se sente representado pela “direção”, construindo assim uma proposta de democracia participativa.

3. Entendemos e reconhecemos as dificuldades inerentes desse processo transformador. Estas reflexões não sugerem uma solução definitiva para problemática da apropriação destes espaços pelo aparato estatal e político-partidário. No entanto, é uma alternativa para ampliar o poder popular estudantil e capilarizar os debates acerca do movimento para todos os corredores.

4. Os pensamentos anarquistas partindo da compreensão da coletividade e da auto-organização, julgam desnecessário o debate acerca da disputa pelo aparelho estatal, uma vez que este além de não representar efetivamente a população como um todo, legitima por meio de seus elementos burocráticos, midiáticos e repressivos, as desigualdades sociais.

5. “Nós, ao contrário, não pretendemos ter a verdade absoluta. Acreditamos que a verdade social, ou seja, o melhor modo de convivência social, não é algo fixo, bom para todos os tempos, universalmente aplicável ou determinável de antemão. Ao invés disso acreditamos que uma vez assegurado, a liberdade, a humanidade avançará, descobrindo e realizando as coisas gradualmente com menor numero de comoções e atritos. Por isso, as soluções que propomos, deixam sempre a porta aberta a outras soluções distintas e, esperamos melhores” (Erico Malatesta)

6. Vocês tem outras alternativas? Sentiram-se contemplad@s com alguns momentos desta tese? Vamos construir algumas conspirações junt@s? Venha conhecer e participar dos encontros do GEAPI. Vamos que voamos com poesia, rebeldia e arte!!