terça-feira, 25 de março de 2014

A necessidade da organização

"E com o bucho mais cheio comecei a pensar
Que eu me organizando posso desorganizar
Que eu desorganizando posso me organizar
Que eu me organizando posso desorganizar"
- Da lama ao caos, Nação Zumbi.


Todos conhecem a máxima “anarquia é ordem”, mas nem todos os anarquistas se propõem a vivenciá-la. Uma necessidade básica de sobrevivência e resistência é a organização; foi a partir da tentativa de auxiliarem-se mutuamente que surgiram os primeiros agrupamentos humanos; é pela organização que os animais evoluíram, e foi visando a organização que se desenvolveram as trade-unions e sindicatos.

A organização no anarquismo é essencial. A luta contra o capitalismo, o Estado e todas as formas de opressão exige uma organização. Não falo da formação de um “exército anarquista”, uma estrutura hierarquizada, autoritária; estas características mantém as ferrugens das engrenagens sociais atuais, e é justamente nestes pontos que a organização anarquista se difere.

Utilizando-se da ferramenta de análise histórica, a dialética, podemos chegar a conclusão de que o extremo oposto à democracia burguesa, o Estado, e ao capitalismo é a anarquia. O caos, em nossa concepção, é a atual condição da sociedade, pautada em um gerenciamento autoritário, hierarquizado (sempre privilegiando o “topo da pirâmide”), individualismo, consumismo extremado e alienação das faculdades humanas pelos pilares Estado/capital.

Concebendo a ordem social fundamentada em uma abstração antihumana (o Estado), e um sistema econômico que sobrevive das desigualdades sociais, uma organização anarquista vem a ser gerida de forma oposta à esta. 

A arbitrariedade das obrigações advindas de cima para baixo, a autoridade, o poder do homem sobre o homem, uma vez negadas pela prática, desenvolve uma arranjo antiautoritário; esta por sua vez sobrevive de acordo com a consciência de cada indivíduo partícipe do processo de composição deste sistema, assumindo para si a responsabilidade do autogoverno. Este autogoverno de indivíduos-coletivos, negará também a disciplina imposta, coercitiva. Existirá sim, pela autodisciplina, a percepção da função do indivíduo dentro da sociedade e sua importância para o pleno desenvolvimento desta. Não é preciso Reis, Presidente ou deuses ordenando as necessidades da organização. Os indivíduos pertencentes, por eles mesmos, gerenciarão suas próprias forças e decidirão de forma horizontal a melhor forma de utilizá-la.

Também o individualismo é substituído pelo coletivismo/coletividade. Novamente, não falamos em homens e mulheres alinhados em fila, repetindo as mesmas palavras, industrialmente organizados. O que é tratado é uma substituição das formas de relacionamento humano, antes baseados no eu, na competição desumana, alternada para uma configuração de respeito e cooperação mútua. Não negamos obviamente a individualidade do ser humano, suas capacidades e desejos particulares, porém pautados nos pressupostos acima mencionados.

O combate incessante ao Estado e a economia atual. Lutar contra o Estado, sem pautar o anticapitalismo, ou lutar contra o capitalismo e preservar a estrutura do Estado, é ultraliberalismo ou socialismo autoritário. Ambos não são anarquistas.

A batalha contra o Estado é a luta contra a estrutura burguesa, que privilegia a classe dominante (em quaisquer sistemas sociais onde este exista), que usurpa as características humanas amarrando todos os indivíduos sob sua tutela e autoridade, esmagando tudo o que se opõe à máquina estatal com a violência de seu corpo repressivo, as falácias de seus sistemas de comunicação e as ilusões do voto.

Lutar contra o capitalismo é lutar contra as desigualdades sociais; contra a má distribuição das riquezas, contra a propriedade privada, contra as meritocracias, e todas as formas de opressão fortalecidas por este sistema econômico: O machismo, o racismo, a homofobia, e as estruturas de governo que são lançadas como última alternativa de manutenção do capital, como o nazismo e o fascismo.

Derrubar o Estado é derrubar o capital. Derrubar o capital é derrubar o Estado. Ambos são faces da mesma moeda, e preservar um ou outro, preservará também as injustiças sociais.

Uma organização que carregue em si estas lutas, possui o anarquismo como norte teórico e prático.

Desta forma, uma organização anarquista tende a ser antiautoritária, anti hierárquica, anticapitalista, anti estatal, autogovernada, cooperativa, respeitando as possibilidades e capacidades individuais, colaborando com as demais lutas libertárias no mundo. 

Obviamente o texto não se encerra em si, e longe de ser uma fórmula definitiva para a autonomia dos movimentos anarquistas, múltiplos por si só em táticas e teorias, é antes um apelo aos que já se reivindicam anarquistas, a virem compor grupos ácratas já organizados, e caso na localidade não haja um grupo, que seja fundado. A urgência deste posicionamento é uma necessidade desde muitos séculos, e que no Brasil foi gritante no forjar das barricadas de junho de 2013.

Resistir e combater as  opressões é hoje questão de sobrevivência da humanidade, e este combate não se dará da noite para o dia, e muito menos de forma espontânea entre os povos. Creio particularmente que uma das finalidades da militância anarquista seja a de auxiliar indivíduos da sociedade atual a perceberem as amarras que cerceiam sua liberdade, e impedem o seu desenvolvimento, e além disso, resistir à elas.
O convite perdura, para os que já reconheceram as injustiças sociais e concebem os males que o Estado e o Capitalismo são por si só, para que participem ativamente da construção de órgãos anarquistas.

UMA CRÍTICA AO “ANARCOFOFISMO

Muitos se declaram anarquistas, e negam a necessidade da organização. É este o anarquismo hiper abstracionista, que considera um pecado mortal até estudar a teoria libertária, pois esta cerceia a liberdade de pensamento, ou que dogmatiza o anarquismo, e que este significa liberdade total e absoluta (desconsiderando outras questões arraigadas à temática, como autodisciplina e respeito mútuo). Sectaristas, veem a luta anarquista como uma forma de autoritarismo contra a burguesia, um anarcofascismo. A inércia política é uma característica forte deste “anarquismo”; isto é, quando os seus idealizadores se declaram anarquistas, pois alguns creem que estas definições limitam o anarquismo. Autodissolvem-se em uma micro fração cujo vegetismo social é apropriado de bom grado pelos opressores. Que governo não deseja um anarquismo assim? Não combativo, não organizado, repartido em si mesmo, abstrato? Se comparado às lutas laborais de meados do século XIX e início do século XX, ou mesmo as recentes insurreições populares em todo o globo, este “anarcofofismo” não passa de uma piada de mau gosto. Assim alertamos aos companheiros sobre este discurso cancerígeno, aquoso, deturpador da realidade e inebriante, assim como as artimanhas sociais para manter o status quo coletivo, e declaramos que é algo a ser revisto, caso desejemos construir com nossas próprias forças uma sociedade livre, em igualdade, cooperação e horizontalidade. 

Anarquismo é ordem.

Anarquismo é luta.

Edgar Rodrigues - GEAPI

domingo, 23 de março de 2014

IV Seminário Memória, Verdade e Justiça - 50 anos do golpe civil-militar no Brasil




Dia 1° de abril de 2014 faz-se 50 anos do período mais obscuro da história do Brasil: A ditadura civil-militar. Com o apoio direto dos Estados Unidos, numa tentativa de derrubar todos os governos progressistas da América latina, sob o argumento de serem comandados pela União Soviética, até então inimiga política, econômica e ideológica dos norte-americanos, os militares foram utilizados para estagnar as várias reformas que o governo de João Goulart planejava, entre elas, a reforma agrária, que beneficiaria a grande parcela da população que não possuía terras, em detrimento de uma minoria latifundiária.

Foram mais de 20 anos de terrorismo de Estado, deportações, expulsões, prisões, torturas, assassinatos, todos apoiados pelas mídias hegemônicas, como a Central Globo de Produções.

Diante da constante represália, grupos e indivíduos decidiram por lutar, como Antônio de Pádua Costa, nascido em Ilha Grande de Santa Isabel e morto na Guerrilha do Araguaia, cujo corpo até hoje não foi localizado.

Além de toda a violência da época entre 1964 a 1988, um rombo gigantesco na economia brasileira foi a herança do regime militar no país.

Recentemente, pessoas em diversos lugares do país, ligados à regimes como o nazismo, o fascismo, e o integralismo, fazem suas passeatas e pedem que novamente os militares assumam o poder no Brasil, trazendo em seu bojo toda a sorte de métodos de coerção física, moral e psíquica, utilizados para torturas e mortes.

Diante deste indigesto debate, indivíduos participantes do Grupo de Estudos Marxistas Piauiense, Grupo de Estudos Anarquistas do Piauí, e Grupo de Estudos em História das Ideias Políticas e Sociais convida toda a sociedade para participar do IV Seminário Memória, Verdade e Justiça, a ser realizado no Auditório da Universidade Estadual do Piauí - Campus Parnaíba, no dia 1° de Abril, terça feira, onde ocorrerá rodadas de apresentações, debates e ideias acerca dos anos de chumbo no Brasil.


A programação é a seguinte:
MANHÃ
8:30 às 11:30
Filme - Cabra marcado para morrer.  Mediador: Prof. Edson Holanda.  
Documentário - 15 filhos. Mediador: Prof. Yuri Holanda. 

TARDE 
14:00 às 17:00 
Comunicação de Pesquisas Acadêmicas. 

NOITE 
19:00 às 21:00 
Mesa de debate: Vivências e impactos da Ditadura Civil-militar de 1964 em Parnaíba-PI; relato gravado da Profª Jesus Fontenele

Você conhece alguém que foi torturado nesse período? Tem algum relato sobre a temática? Quer conhecer um pouco mais acerca deste período na sociedade parnaibana, piauiense e brasileira? Seja bem vindo ao IV Seminário Memória, Verdade e Justiça.

PARA QUE NÃO SE ESQUEÇA, PARA QUE NUNCA MAIS ACONTEÇA.

PARTICIPE! COMPARTILHE!

Link do evento no facebook aqui

terça-feira, 18 de março de 2014

Lançamento - I CONAPI

Nos dias 18 e 20 de Abril deste ano, Teresina será a casa do I Congresso Anarquista do Piauí, o CONAPI. Organizado pelos membros do GEAPI - Grupo de Estudos Anarquistas do Piauí, dos núcleos de Parnaíba e de Teresina, o evento congrega libertários dos mais diversos ambientes de luta, simpatizantes e interessados em abranger seus conhecimentos e táticas de militância, numa tentativa de confluir ações para além dos discursos mais que repetidos de grupos que disputam eleições, e que anseiam em subjugar os povos, como militares e empresários. Este espaço ocorrerá na Universidade Federal do Piauí, mais exatamente no Diretório Central dos Estudantes. A programação está no cartaz disponibilizado pelo grupo, cujo qual convida cordialmente todos os trabalhadores/as, quilombolas, indígenas, mulheres, homens, e todos que desejam construir uma sociedade sem oprimidos nem opressores.
Para mais informações, visite o site do evento clicando aqui

TODO PODER AO POVO!