sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Democracia Rojava



A razão para que o titulo deste artigo seja “Rojava Democracy” (Democracia Rojava), não é porque eu queira falar sobre o tipo de sistema que as pessoas estejam querendo construir em Rojava, mas é exatamente o oposto. Eu quero sugerir um conceito que não tenha fronteiras, o qual eu possa recomendar para qualquer lugar. Ao usar este nome, eu pretendi fazer referencia ao um tipo “democracia de oposição” que se opõe ao capitalismo/neoliberalismo e ao regime prisional, o qual dia após dia, tem criado piores condições para uma humanidade que è explorada e sujeita a condições de controle extremo, em cada canto do globo terrestre. Acho que isso è um belo nome para o tipo de “igualdade e liberdade” que pode ser percebido em uma democracia ecológica, coletiva, cooperativa, comunitária; uma democracia participatória radical e uma vitalidade que permanece ainda mais criativa do que essas teorias. Além disso, eu acredito que seja completamente apropriado que a classificação estrutural definida como democr
acia participatória radical com toda sua dinâmica interna adote um nome coletivo oriundo do “ponto-zero” do mundo—Rojava.

Você pode pensar que, embora nós estejamos bem intencionados, possa ser um exagero sugerir que a “Democracia Rojava” seja aplicada ao mundo todo; mas isso è o que eu tenho tentado, insistentemente, explicar ao longo de dois ou três anos—não deixe que a alegação de que “Rojava é o ponto-zero do mundo” pareça lamentável. Ela se chama “Democracia Rojava” porque num mundo onde alguém experimenta as dimensões espaciais ilimitadas de raça, classe e interferência estatal em quase toda rua e em um Cetro Leste que tem sido dividido por fronteiras marcadas por campos minados é uma tentativa de trazer à vida uma democracia participatória radical como uma forma de governo e tem funcionado em meio a toda sua matéria essencial, em contraste ao resto do mundo, não somente inclui as minorias de toda comunidade étnico-religiosa, mas acredita que é absolutamente necessário inclui-las.*O comitê popular de Rojava, no qual árabes, alevitas, yezidis, cristãos, turcomanos, sírios, armênios, assírios e, claro, os curdos estão participando juntos separa diretamente as rupturas das dimensões espaciais de raça, classe e interferência estatal.

É um nome que precisa ser empregado ao redor do mundo porque a “Democracia Rojava” é o oposto das fronteiras, e porque mulheres que têm sido rejeitadas nas esquinas de cada lugar do mundo e, em particular, nos seus guetos neoliberais tem se tornado um sujeito-base desta democracia radical em um Centro Leste que é um dos mais afiados e claros exemplos de exclusão. Para as mulheres –que são excluídas, transformadas numa segunda classe, tanto celebradas quanto confinadas ao seu serviço com crianças, tanto expostas quanto cobertas, tanto estupradas quanto tomadas sob proteção/presas, e em todos as situações são objetificadas—não é nada mais que uma luta de libertação.

Eu quero olhar conceitualmente para esta tentativa de subversão como Giacometti comentou em seu trabalho. Giacometti sempre falou sobre suas esculturas como parte de um trabalho completo. Isso é para dizer que todos os arquivos e martelos, os escultores e todas as ferramentas em sua oficina, os fragmentos quebrados e moldados, a poeira e todos os detritos são como uma peça. Ainda que ao mesmo tempo todas estas esculturas tenham sido formadas de toda aquela poeira e fragmentos e devido a isso, como uma peça, elas foram formadas de tudo. A Democracia Rojava é uma parte do mundo todo e está se autoconstruindo da poeira e dos fragmentos...

E as estatuas de Giacometti são consideradas uma obra-prima...

*Aqui, eu deveria ressaltar que as seitas e as denominações de comunidades religiosas são fundamentalmente e em ultima análise definidas como um tipo de “raça-etnicidade”.

Tradução, Caroline Alves

Fonte: <http://rojavareport.wordpress.com/2014/11/17/rojava-democracy/. publicado em 17 de Novembro. Autor desconhecido. Acesso em 21 de Novembro de 2014. 9:20> 

Teresina, Novembro, 2014.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

18.11.1918 - 18.11.2014: Viva a Insurreição Anarquista de 1918!





Hoje, 18 de Novembro de 2014, comemoramos 96 anos da épica Insurreição Anarquista ocorrida no Rio de Janeiro. Escolhemos, para relembrar a tentativa de criação de um autogoverno popular no Brasil, um texto de John W. F. Dulles, do livro “Anarquistas e comunistas no Brasil”, disponível em nossa biblioteca virtual

Olhemos o passado para relembrar d@s brav@s companheir@s que lutaram incessantemente para a edificação de um mundo de justiça e igualdade social, política e econômica, vivamos o presente em organização e luta, reparando os erros do passado e fitando no horizonte, o futuro que, através da derrocada do capitalismo e do Estado, ergueremos: Um futuro Socialista e Libertário.  

ANARQUISMO É LUTA!



"Com o fim da Primeira Guerra Mundial (a 11 de novembro de 1918), uma segunda fase da onda de greves iniciadas em 1917 abalou o país até 1.921. Um aspecto novo se revelaria agora, ocasionalmente: É que alguns dos lideres do proletariado estavam decididos a fazer os companheiros seguir o exemplo de seus "irmãos" bolchevistas, para se estabelecer "um governo genuinamente de operários e soldados". Havia. entre tais lideres, os que estavam bastante impressionados com o fato de que um estágio avançado de desenvolvimento industrial não era requisito para a derrubada violenta do capitalismo. Acreditavam, como Lênin e Trotsky, que estava a seu lado a lógica da história universal, e que o movimento proletário, iniciado na Rússia em 1917, iria expandir-se inevitavelmente. 

As autoridades brasileiras, também sob influência da revolução bolchevista, raras vezes perdiam a oportunidade de avisar a população que o teor do movimento grevista era bem mais sinistro do que a reivindicação do aumento salarial e a jornada de oito horas. Poderiam referir-se à motivação dos líderes anarquistas que organizaram a greve que estourou no Rio uma semana após o fim da guerra mundial, antes da suspensão do estado de sítio. Com a ajuda de bombas, os conspiradores tentaram recriar os acontecimentos ocorridos em Petrogrado, no ano anterior".

José Oiticica foi designado líder do "conselho" diretor da insurreição, sendo nesta tarefa auxiliado por Agripino Nazaré, advogado da Bahia, e Astrogildo Pereira, cujas cartas à imprensa lhe custaram o emprego no Ministério da Agricultura. Outros que estiveram ligados ao conselho insurrecional foram Manuel Campos, o anarquista espanhol que dirigiu Na Barricada em 1915-1916, Alvaro Palmeira, um professor de certo prestígio entre os operários da construção civil, e Carlos Dias, o operário gráfico que por mais de 10 anos vinha trabalhando na publicação de jornais anarquistas. Os líderes dos trabalhadores das fábricas de tecidos, Manuel Castro e Joaquim Morais, assim como José Elias da Silva, João da Costa Pimenta e o jornalista José Romero estavam cientes da conspiração. 

Enquanto o conselho orientava os operários, prestes a se declararem em greve pela melhoria das condições de trabalho, as atenções da população brasileira se voltavam pua a terrível epidemia de "gripe espanhola" e para os planos da tomada de posse do Presidente-eleito Francisco de Paula Rodrigues Alva, que deveria suceder a Venceslau Brás no dia 15 de novembro de 1918. 

A epidemia de gripe espanhola, catastrófica em São Paulo, alastrou-se de maneira ainda mais grave na Capital da República. Os relatórios indicam que, em meados de novembro de 1918, 401.950 cariocas foram, ou já haviam sido, acometidos pela gripe, numa população de 914.292 habitantes, e que àquela altura 14.459 pessoas haviam sucumbido à doença. Anunciou-se. que o Presidente-eleito Rodrigues Alva contraíra a gripe e que seu estado não lhe permitia assumir o poder. O Vice-Presidente-eleito Delfim Moreira assumiu a presidência, logo após o falecimento de Rodrigues Alves. 

Para infelicidade de Oiticica e dos demais conspiradores, Ricardo Correia Perpétuo, o membro do conselho que fora encarregado de distribuir boletins sediciosos entre os soldados aquartelados na Vila Militar, convidou o tenente do Exercito Jorge Elias Ajus a participar do movimento. Aja, expressando-se a favor da implantação no Brasil de uma forma de governo "inteiramente popular", à semelhança da Rússia, foi avidamente acolhido no movimento, devido a suas conexões militares, sendo nomeado, juntamente com Oiticica, chefe do movimento." Mas Ajus era um espião.

Na noite de 14 de novembro Ajus participou de uma reunião, na residência de Oiticica, em que tudo era falado em voz baixa, por solicitação do professor: Ele temia que sua esposa, que ocupava um cômodo contíguo e não sabia de nada, fosse capaz de denunciar a insurreição. Anunciou-se, então, que todos os operários em tecidos estavam prontos para a ação. Os operários que partissem de Botafogo deveriam invadir o palácio presidencial, onde hasteariam uma bandeira vermelha; os operários reunidos em Sito Cristóvão se apossariam dos depósitos de armas e munições da Intendência da Guerra; os tecelões de Bangu tomariam posse da fábrica de cartuchos de Realengo; o pessoal da Saúde, fiel a Manuel Campos, ajudaria no ataque ao quartel de policia ali existente. Oiticica observou que a deflagração deveria ser combinada para coincidir com as sessões da Câmara e do Senado, a fim de se prenderem todos os seus membros. Ajus se encarregaria do Exército. 

Uma reunião mais concorrida, de que participaram cerca de 40 conspiradores, realizou-se no dia 15 de novembro, numa sala do curso do professor Oiticica. Depois de aberta a sessão por João da Costa Pimenta, o tenente Ajus propôs que a insurreição começasse com uma concentração geral no Campo de São Cristóvão. para o posterior ataque à Intendência da Guerra e aos quartéis de policia. Oiticica concordou e ordenou que, após declarada a greve, mareada para as 15:30 horas do dia 18 de novembro, os grevistas, calculados em 15 mil, se dirigissem para o Campo de São Cristóvão. 

Na noite de 17 de novembro, em reunião de uns oito ou 10 membros do conselho na casa de Oiticica, Ajus alegou que não poderia cooperar efetivamente com o movimento, por não estar de serviço no quartel naquele dia 18, e pediu que a insurreição fosse adiada para o dia 20. Mas Agripino Nazaré opôs-se a esta proposta, lembrando que os tecelões, prontos para iniciar a greve no dia seguinte, não poderiam ser persuadidos a voltar atrás. Em seguida, Oiticica enumerou algumas das medidas tomadas: havia "quatro mil operários dispostos a tudo", e "1.600 bombas" já tinham sido distribuídas. Segundo Oiticica, seria fácil tomar o depósito de armas e munições do Campo de São Cristóvão e explicou ainda a maneira como os metalúrgicos cortariam as linhas telefónicas e dinamitariam uma das torres de iluminação da Light, deixando às escuras a cidade. Quarenta tambores de petróleo e gasolina — acrescentou — seriam usados para incendiar o edifício da prefeitura, o quartel-general do Exército e o quartel central da polícia. 

Nas primeiras horas da tarde de 18 de novembro, Oiticica se reuniu com alguns membros do conselho em um prédio da Rua da Alfândega, para rever os últimos detalhes do levante. As autoridades, informadas de tudo o que se passava, interromperam subitamente a reunião, prendendo Oiticica, Manuel Campos, Ricardo Perpétuo, Astrogildo Pereira, Augusto Leite e Carlos Dias. Júlio Rodrigues, o comissário destacado pelo chefe de polícia Aurelino Leal para efetuar as prisões, informou mais tarde que havia feito todos os esforços para conseguir a prisão de João da Costa Pimenta, Manuel Castro, Joaquim Morais c Raimundo Martins. Mas todos estes conseguiram fugir e permanecer escondidos.

Às quatro horas da tarde do dia 18 de novembro, os tecelões do Distrito Federal se declararam em greve; seis mil operários deixaram seus empregos em Bangu, onde o movimento "irrompeu com grande clamor". Os metalúrgicos e os operários em construção civil aderiram à greve logo em seguida. As fábricas estavam repletas de boletins que conclamavam à "insubmissão" e à "reação violenta contra a prepotência dos patrões". Os boletins distribuídos nos quartéis do Exército concitavam os militares, "irmãos dos trabalhadores", a se unirem à classe operária na formação dos comitês de soldados e operários com o fim de assumir a direção de todos os serviços públicos.

Às cinco horas da tarde umas poucas centenas de insurretos se reuniram no Campo de São Cristóvão. Durante a luta em que alguns deles tomaram a delegacia do décimo distrito policial, uma bala atingiu o delegado, e uma bomba arremessada contra um veículo da brigada policial feriu ligeiramente quatro praças. Para retomar dos insurretos a delegacia, uma unidade de cavalaria do Exército partiu da bem guarnecida Intendência da Guerra. Com repetidas "descargas de fuzil, conseguiu expulsar os invasores”. Chegavam, ao mesmo tempo, reforços do Exército e da polícia, conforme as providências de Aurelino Leal. Os insurretos fugiram, mas dezenas deles foram presos. Algumas das bombas abandonadas explodiram, aqui e ali.

Numa das indústrias têxteis, a Fábrica de Tecidos Confiança, um grupo de trabalhadores, chefiado por Miguel Manias, invadiu o escritório da fábrica para agredir a direção. Outros operários correram em defesa dos diretores, e saiu uma luta de faca, em que sucumbiu Miguel Martins. Três outros operários foram gravemente feridos, falecendo um deles quatro dias mais tarde. 

Em meio a muitos discursos, no dia 19 o corpo de Miguel Martins foi enterrado num caixão envolto na bandeira de seu sindicato. Descreveram-no como "vítima da traição de um companheiro". 

Aurelino Leal, apelidado de Torquemada ou de Trepov carioca pelos líderes trabalhistas, baixou uma ordem proibindo a realização das reuniões operárias. João Gonçalves, Francisco de Oliveira e outros líderes em Bangu protestaram e foram presos. Uma comissão de tecelões pediu permissão a Aurelino para se reunir, mas o pedido foi negado por não proceder da diretoria do sindicato (cujos componentes estavam presos ou foragidos). Os tecelões tentaram explicar ao chefe de polícia que seus salários e condições de vida não lhes permitiam fabricar bombas. "Positivamente. Sr. Dr., não queremos fazer revoluções. Queremos. sim, trabalhar, tendo os nossos direitos assegurados e respeitados”. 
No dia 22 de novembro o Presidente em exercício Delfim Moreira e o Ministro da Justiça assinaram um decreto que dissolvia a União Geral dos Trabalhadores, e suspendia temporariamente três sindicatos já fechados por Aurelino Leal: Os sindicatos dos operários em tecidos, dos metalúrgicos e dos operários em construção civil. Uma subcomissão da União Geral dos Metalúrgicos se queixou de que, quando a comissão da entidade se reuniu para decidir se os metalúrgicos deveriam voltar ao trabalho, toda ela foi "presa arbitrariamente". De acordo com as informações fornecidas pelo Tenente Ajus às autoridades, os metalúrgicos haviam sido designados para dinamitar uma torre da Light. 

No dia 19 de novembro arremessaram-se bombas em duas torres da Companhia Light & Power, que mal foram danificadas: A companhia assegurou que "só uma carga de dinamite de potência extraordinária" poderia derrubar as torres, e que, ainda assim, se isso aconteceria, os acumuladores disponíveis seriam suficientes para iluminar o Rio por 24 horas, o tempo necessário para reparar as instalações”. 

A 22 de novembro, guiando-se por estas palavras de conforto, os jornais estamparam manchetes sensacionalistas, em que se relatava e ação enérgica da policia, ao desbaratar um "atentado inominável" dos anarquistas, que planejavam dinamitar as represas de Ribeirão das Lajes, para privar a cidade de luz, força e serviço de bondes". Dizia-se que nada menos do que 10 "agitadores" foram presos, depois de surpreendidos com panfletos subversivos, grande quantidade de armas e mapas "da estrada que vai de Rio das Pedras a Ribeirão das Lajes, bem como dos pontos que deveriam ser dinamitados. A polícia acreditava que o plano era de dinamitar várias das bombas hidrelétricas e minar os escombros de modo que fossem mortos os operários encarregados do conserto". 

As notícias desta quase calamidade se fizeram acompanhar da revelação de que "nada menos do que 78 anarquistas" tinham sido presos de 18 a 21 de novembro. Estavam entre eles diversos espanhóis suspeitos e empregados em fábricas na Gávea, grevistas que tentaram reunir-se num matagal de Bangu, elementos encontrados num galpão com "documentos subversivos" e indivíduos apreendidos portando bombas ou armas. Dizia-se que os anarquistas estrangeiros seriam deportados e que os nacionais seriam enviados para a ilha de Fernando de Noronha, ao largo da costa nordestina.

Para demonstrar a existência de uma conspiração atrás do movimento grevista, as autoridades chamaram a atenção para o fato de que os operários abandonaram o serviço simultaneamente e sem levar aos empregadores as suas reivindicações. Com seus líderes dispersos e as reuniões de classe proibidas, os sindicatos encontravam dificuldade para encaminhar os seus reclamos. No dia 20 de novembro, todavia, o Jornal do Brasil publicou algumas das reivindicações proletárias. Os operários em construção civil queriam o dia de oito horas e garantias em casos de acidente de trabalho. Os metalúrgicos queriam salário mínimo, dia normal de oito horas e reconhecimento do sindicato como único intermediário entre patrões e empregados. 

Os tecelões acusavam os patrões de haverem ignorado os acordos de julho de 1917. O Jornal do Brasil, que sustentava e acusação, publicou uma resolução pela qual os tecelões não retomariam ao trabalho antes de obterem salário mínimo, semana de seis dias e dia de oito horas. 

O governo distribuiu uma série de comunicados com o intuito de persuadir os operários a abandonarem a greve, apelando inclusive para as esposas e mães dos mesmos. Nesses comunicados o governo, "amigo e natural protetor dos trabalhadores ordeiros", prometia a deportação dos agitadores que os exploravam e os submetiam a uma “terrível escravidão". Um boletim do Serviço de Segurança, 26 de novembro, anunciava a quantidade de dinheiro encontrada em mãos anarquistas. "Manuel Campos, ao ser preso, fora encontrado com mais de 500$000... Que prova mais clara de que os anarquistas explorem os trabalhadores ordeiros? Mas esse regime de coação está no fim. Ontem mesmo já voltaram para o trabalho 8.940 operários. Retomem todos os outros sem receio, porque a policia está agindo e não dará trégua aos dinamitadores.

No fim de novembro a maioria dos grevistas remanescentes voltaram a seus empregos. Mas as companhias se recusaram a readmitir os que consideravam perigosos. A esta altura dos acontecimentos a policia mantinha cerca de 200 "agitadores" na Casa de Detenção. Ao contrário dos boatos inspirados pela presença de um navio de guerra: Os prisioneiros não foram enviados a Fernando de Noronha, permanecendo na cadeia para serem interrogados. A polícia atava interessada principalmente nos planos de dinamitação de torres e represas.

Os estudantes do Colégio Pedro II e da Escola de Medicina pediram a libertação de José Oiticica. Mas tiveram de continuar sem o professor, pois Oiticica, solto ao dia 10 de dezembro, embarcou "deportado" com esposa e filhos sio Olinda, rumo ao Estado de Alagoas.

João da Costa Pinicais foi para São Paulo, e Agripino Nazaré mimam à Babai, seu estado natal. Astrogildo Pereira permaneceu encarcerado no Rio de Janeiro. Escrevendo a Oiticica, em janeiro de 1919, sobre a prisão e o processo que o enquadrara, Astrogildo terminava a cana dizendo: "Nossa disposição não esmorece. Em todos nós palpita o mesmo entusiasmo, e nossas convicções se enraízam ainda mais fundo. O mundo é nosso — e todos os sabres, todas as grades do Sr. Aurelino resultam, afinal, num estimulante poderoso e incontestável" "Hurra' para a anarquismo!", escreveu noutra carta. (...)"


Fonte:
DULLES, John W. F. Anarquistas e Comunistas no Brasil, 1900-1935. Rio de Janeiro, Nova Fronteira: 1977. pp 66-71.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

O poder “soviético” – Seu presente e seu futuro



Um grande número de pessoas, sobretudo de esquerda, tendem a considerar o poder "soviético" como um poder de Estado diferente dos outros, apresentando estas diferenças como melhores:
"O poder soviético dizem eles, é um poder operário e campesino e, como tal, possui um grande futuro pela frente..."

Não há afirmação mais absurda. O poder "soviético" não é um poder melhor nem pior que os outros. Atualmente, é também inseguro e absurdo como todo poder de Estado em geral. Diante de certas notícias, é até mais absurdo que os outros. Conseguindo uma dominação política total do país, se fez o proprietário indiscutível de seus recursos econômicos e, sem contentar-se com esta situação grosseiramente exploradora, sentiu nascer nele o sentimento enganoso de uma "perfeição" espiritual, um sentimento que procura desenvolver diante do povo trabalhador e revolucionário do país. Assim, quer se impor ao povo enganando como seu dono espiritual; nisto, é fiel à insolência ilimitada e irresponsável de todo poder de Estado. Não é um segredo para ninguém que esta suposta "perfeição" do regime não é outra que a de seu inspirador, o partido bolchevique-comunista.

Tudo isto é só mentira descarada, repugnante hipocrisia e imprudência criminal direcionada à classe operária, em nome das quais e graças à elas se fez a Grande Revolução Russa, agora castigada pelo poder em proveito dos privilegiados de seu partido e da minoria proletária que, sob a influência deste partido, acreditou que estava representada nos rótulos, apetitosas para os ignorantes, do Estado proletário e da ditadura do "proletariado". Minoria que se deixa sem dúvidas se arrastar pelas rédeas, por este partido, sem ter participação alguma nem ter o direito a ser informada com precisão sobre o que se preparou e se cumpriu de forma traidora atualmente e o que todavia se prepara hoje contra seus irmãos proletários que não querem ser um instrumento cego e mudo e os que não creem nas mentiras do partido de máscara proletária.

Não é de se estranhar, sem dúvida, se este comportamento do poder bolchevique a respeito dos trabalhadores pode mostrar-se diferente no domínio de sua educação "espiritual". Ponho como mostra a persistência da consciência revolucionária nos trabalhadores da URSS, causa de grande preocupação para o regime, e que o Partido Bolchevique quer substituir por uma consciência política fabricada segundo seu programa.

É esta a circunstância que explica que o poder bolchevique se encontra cada vez mais cheio de dificuldades e que quer estupidamente completar seu despotismo econômico e político por uma empresa espiritual sobre o povo trabalhador. Não faz falta dizer que esta situação atual do regime condiciona estreitamente seu futuro; futuro completamente incerto, por falta de um futuro favorável. 

Em efeito, a situação atual é visivelmente desfavorável para milhões de trabalhadores dos que se pode esperar, de um momento ou outro, insurreições e revoluções sangrentas contra a ordem bolchevique-comunista. É muito evidente que este espírito insurrecional revolucionário dos trabalhadores da URSS deve ser apoiado por todos os revolucionários de todas as partes. Não obstante, não fará falta que contrarrevolucionários e inimigos dos trabalhadores tirem proveito desta situação. Os trabalhadores e revolucionários devem pois ter por objetivo destruir a ordem atual insensata e irresponsável, instaurada a favor dos privilégios do membros do Partidos e de seus mercenários.

A loucura deste regime deve ser eliminada e substituída pelos princípios vitais dos trabalhadores explorados, tendo como base a solidariedade, a liberdade e a igualdade de opinião para todos eles e a cada um, em definitivo, para todos os que se preocupam de uma autêntica emancipação. É um problema que concerne a todos os revolucionários russos: Todos aqueles que se encontram exilados ou na URSS devem, ao meu ver, preocupar-se com isso em primeiro lugar, assim como todos os proletários e os intelectuais dispostos revolucionariamente; acrescentarei a isto todos os opositores e refugiados políticos do regime bolchevique, a condição de que isto seja por motivos verdadeiramente revolucionários.

Eis aqui como vejo o presente e o futuro do "poder soviético", assim como a atitude que devem adotar os revolucionários russos de todas as tendências a respeito dele. Revolucionários que não podem, a meu ver, traçarem o problema de forma diferente. Devem levar em conta que, para combater o poder bolchevique, há de ter em consideração os valores que utilizou e proclamou para apoderar-se do poder; valores que continuam por outro lado, defendendo mentirosamente.

Caso contrário a luta dos revolucionários se mostraria, se não contrarrevolucionária, inútil para a causa dos trabalhadores enganados, oprimidos e explorados pelos bolcheviques-comunistas, os trabalhadores aos que os revolucionários devem ajudar custe o que custar a libertar-se deste velho círculo vicioso de mentira e opressão.

(Nota de Alexandre Skirda: Este órgão foi reescrito por vários fugitivos anti-estalinistas e anti-trotskistas, que se retiraram do regime bolchevique tendo como base uma volta aos soviets livres de 1917 e as reivindicações dos insurrectos de Kronstadt em 1921. O principal entusiasta da revista era Gregorio Bessedovsky, ucraniano e ex- diplomata soviético deixando em meio a confusões a embaixada da URSS em Paris e dedicando-se a denunciar violentamente as infâmias do regime stalinista. Ver sua obra: Si, acuso! Paris, 1930. Nota do tradutor espanhol).

(Nestor Makhno. O poder "soviético" - seu presente e seu futuro. 1931. Publicado originalmente em Bor'ba (A Luta), Paris, n°19-20, 25 de Outubro de 1931, pp.2-3. Tradução para o espanhol realizada por Jordy Rey. Tradução para o português realizada pelo GEAPI - Grupo de Estudos Anarquistas do Piauí).

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Achiamé está morto, porém vive!



Os anarquistas historicamente deram ênfase ao conhecimento e difusão da teoria libertária. Panfletos, jornais, peças teatrais, comícios, e... Livros. Livros! A vida de um homem foi dedicada quase que inteiramente à livros. Seu nome? Robson Achiamé.

Caso você seja anarquista, caro leitor, talvez não tenha o conhecido, ou mesmo trocado nenhuma palavra com Achiamé, mas temos certeza que se olhar a sua estante destinada à teoria anarquista, certamente que encontrará um rico acervo de obras editadas por uma certa "Editora Achiamé".

O Camarada Robson, 71 aos, 47 dedicados à imprensa libertária morreu, porém vive. Observando os comentários de condolências, é possível entrever um homem bondoso, gentil, que enviava caixas de livros sem nem mesmo pedir o pagamento prévio (e por vezes, nem mesmo pagamento), um verdadeiro anarquista, que tinha prazer em divulgar as ideias libertárias.

No Piauí, cuja política é caracterizada por um forte monopólio da mídia por parte de oligarquias empresariais, a criminalização de movimentos sociais, e um tradicionalismo beirando aos czares russos, o anarquismo insiste em romper o solo árido da transformação social, e encontra resposta positiva entre trabalhadores, estudantes e populares. Foi por meio de um grande número de livros editados por Robson Achiamé que vári@s companheir@s que hoje compõem o GEAPI adentraram nas lutas e na organização anarquista. Indiretamente, o GEAPI tem muito de Robson Achiamé, assim como tantos grupos de estudos, coletivos, associações, e tantas outras formas de anarquistas dividirem, partilharem e multiplicarem as lutas e os sonhos. 

Acreditamos que a vida e a obra de Achiamé jamais serão "repetidas", mas que sejam o espelho de novas experiências em edição de livros anarquistas no Brasil, assim como a dedicação, a amizade e o compromisso de Robson. 

O anarquismo em língua portuguesa com certeza perde em muito com a morte do companheiro, mas não cessará. Esta talvez seja a forma de agradecer todo o esforço e dedicação de Robson Achiamé Fernandes: Militando, organizando e lutando por um mundo novo, o mundo que carregamos em nossos corações. 

Que a terra lhe seja leve!

Para sempre, PRESENTE!



GEAPI - Grupo de Estudos Anarquistas do Piauí
Biblioteca Libertária
Livraria Itinerante Anarquista

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

[PHB] O Anarquismo em debate - Ciclo de Formação político-anarquista



O GEAPI - Grupo de Estudos Anarquistas do Piauí, juntamente com o Teatro Saraiva, Biblioteca Libertária, Livraria Anarquista Itinerante e  Centro Acadêmico de História convidam a tod@s para o evento: O Anarquismo em debate - Ciclo de Formação político-anarquista, que acontecerá em Parnaíba, nos dias 28, 29 e 30 de novembro, no Teatro Saraiva.
Segue a programação:

DIA 28.11:
18:00h Recepção
19:00h Anarquismo e Feminismo

DIA 29.11:
08:00h História do Movimento Anarquista
10:00h A História da Cor 
12:00h Almoço
13:30h Capitalismo e Anticapitalismo
15:30h Concentração para a Parada da Diversidade

Dia 30.11:
08:00h Educação e Anarquia
10:00h Apresentação do GEAPI

O evento terá certificação de 15h.

Link do evento no facebook aqui

Algumas informações que consideramos necessárias sobre o evento, principalmente @s companheir@s de outras localidades, que queiram vir:

Será disponibilizado alojamento?
- Sim, porém em número reduzido. Caso haja interesse de algumx companheir@, entre em contato pelo facebook com o perfil do GEAPI e veremos a reserva de vaga.

Será disponibilizado alimentação?
- Não, em contrapartida, indicaremos axs camaradas locais onde se pode fazer boas refeições por um baixo custo.

A emissão dos certificados não torna a formação "academicista"?
- Desde o "Colóquio Ferrer y Guardia - Reflexões sobre a pedagogia libertária" recebemos algumas "críticas" acerca da certificação dos eventos. Gostaríamos de explicitar o fato de que a emissão dos certificados é realizada não no intuito de "zerar ACC's" ou "encher o Lattes", mas sim facilitar a vinda d@s companheir@s de outros locais, observando que um número significativo destxs são acadêmic@s e/ou trabalhadorxs. O certificado serve de alternativa para abonar eventuais faltas no trabalho/escola/universidade, assim como possibilitar a solicitação de transporte em sindicatos/escolas/universidades.

O que preciso levar para o evento?
- Materiais de higiene pessoal (toalhas, escovas de dentes, sabonetes, etc.);
- Materiais de facilitação de consumo alimentar (pratos, copos, talheres, etc.);
- Materiais para o alojamento (colchonetes, barracas, redes, lençóis, etc.).

terça-feira, 4 de novembro de 2014

[PHB] Roda de diálogo: Anarquismo e movimento estudantil



Desde junho de 2013 o anarquismo voltou a ser debatido e criminalizado pelas mídias, empresários, militares e partidos políticos (de esquerda e direita). No mesmo ano, o movimento estudantil foi destaque em muitas cidades, inclusive em Parnaíba.

O que a teoria política e social anarquista tem a oferecer ao movimento estudantil na atualidade? 

Visando o aprofundamento deste debate, o Grupo de Estudos Anarquistas do Piauí convida tod@s @s interessad@s a participarem da "Roda de Debates: Anarquismo e Movimento Estudantil", que ocorrerá no dia 19 de Novembro (Quarta-feira), às 17:00h em frente o auditório da UFPI de Parnaíba.

Link do evento no facebook aqui