terça-feira, 30 de setembro de 2014

Como votam os anarquistas?



Disponibilizamos um texto desenvolvido por um militante da Federação Anarquista Gaúcha, Evandro Couto, que consegue de forma simples explicar os motivos pelos quais os anarquistas não votam, o que definitivamente não significa abandonar a política, mas sim realizá-la em sua forma legítima.  


Quando em todo Brasil as eleições nacionais vem chegando e agitam de novo a cena da política somos provocados a escrever sobre este tema que, sem dúvidas, será um acontecimento de atração.

Para discutir aqui de um outro modo, para além da oferta de candidatos da campanha.

Os velhos socialistas já nos deixaram ferramentas de análise crítica, que tem vigência em muitos aspectos, a respeito de como opera o mecanismo eleitoral na conservação e reprodução das estruturas do poder.

A esquerda brasileira nos últimos 20 anos fez uma experiência política de obrigatória referência jogando suas forças nos pleitos, conquistando bancadas e administrando instituições da democracia formal.

Que as eleições, na escala que sejam feitas, nos dão uma medida relativa da formação das opiniões entre os eleitores, indicam tendências, conformação de interesses, valores e esperanças na sociedade, é bom ter presente.

Mas reconhecer indicadores não é o mesmo que validar os seus resultados para uma estratégia de mudança social. O voto não dá necessariamente uma medida da organização dos de baixo, da consciência política e capacidade de luta por objetivos de classe.

Muita energia da esquerda já virou fumaça na história por causa desse engano.

Votar para os anarquistas é um assunto mal explicado, por responsabilidade de uma linha de propaganda que fez a abstenção ou o voto nulo aparecer como uma questão de princípios.

Os anarquistas não formam um partido da democracia burguesa e respondem na conjuntura eleitoral pela tática do voto nulo ou da abstenção por uma atitude política que pretende guardar relações de coerência com uma estratégia de poder popular.

Chamar a anular sem fazer prioridade ao trabalho de organização popular é pedir o voto como fazem os partidos integrados no sistema. Não é o voto em si, como mecanismo decisório da sociedade, que é o problema, o problema é para qual estrutura de poder ele funciona.

As eleições burguesas não mudam a sociedade, trocam os políticos de turno, mas o poder continua o mesmo, operando nas desigualdades sociais e reproduzindo dominação de classe.

O problema fundamental da democracia no sistema capitalista, como foi criticada pela corrente libertária, é que a igualdade política do direito liberal burguês fica negada pela desigualdades sociais e econômicas da realidade. A democracia burguesa é um regime de direitos onde o poder e a riqueza das classes dominantes são sempre mais decisivos.

Qual é a liberdade de escolha de um sujeito que sofre a pressão concreta da pobreza e todas as privações econômicas e culturais desta condição, perguntava Bakunin.

O anarquista da velha guarda concluía que o voto, “enquanto seja exercido em uma sociedade em que o povo, a massa dos trabalhadores, esteja economicamente dominado por uma minoria detentora da propriedade e do capital, por independente que seja por outra parte ou que o pareça desde o ponto de vista político, não poderá nunca produzir mais que eleições ilusórias, antidemocráticas e absolutamente opostas as necessidades, aos instintos e a vontade real dos povos.”

O regime democrático nunca teve lugar seguro na carta de princípios do capitalismo. Na história recente da América Latina quando o poder esteve a ponto de escapar das mãos das classes dominantes e do imperialismo eles preferiram a ditadura dos militares para proteger seus interesses do que jogar sua sorte pelos direitos democráticos.

O cenário da abertura deu nova circulação para ideologia liberal burguesa e fez seus conceitos penetrarem nas lutas políticas da esquerda. As liberdades públicas peleadas contra a ditadura se confundiram no programa dos partidos de base operária e popular com a defesa da democracia burguesa e das suas regras como único terreno para buscar mudanças na política.

Começa uma história que bem conhecemos no Brasil e em países vizinhos.

Evandro Couto, militante da FAG.

fonte:
http://www.vermelhoenegro.co.cc/2010/03/como-votam-os-anarquistas.html

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

[Fortaleza] Anarquismo, Luta Social e Gênero: A saída à esquerda é nas ruas!




O Grupo de Estudos Anarquistas do Piauí foi convidado a participar de um debate juntamente com outr@s organizações do Nordeste, que será realizado em Fortaleza-CE. Segue abaixo a chamada do evento:

O objetivo desse primeiro Seminário é o compartilhamento de experiências regionais objetivando a construção de possibilidades combativas de atuação social. É socializar os conhecimentos e práticas de atuação social, linkando atividades práticas de Organização Popular e de fortalecimento dos Movimentos Sociais dentro de um projeto Socialista e Libertário.

Programação:

Sábado 27/09/2014 - Recepção Cultural, às 19h. Local: Sede do Aparecidxs Politicos (Rua Instituto do Ceará, 164, Benfica)

Domingo 28/09/2014 - Seminário

Manhã (08h às 10h): Movimentos Sociais e Perifeira (Facilitação: Movimento Social FOME - Sobral/CE e Organização Resistência Libertária - RMFortaleza/CE)

Manhã (10h às 12h): Gênero e Anarquismo (Facilitação: Organização Resistência Libertária - RMFortaleza/CE)

Tarde (14h às 17h): A Outra Campanha: trocas de experiências entre os presentes.

Organização: Movimento Social FOME, Grupo de Estudos Anarquistas do Piauí (GEAPI) e Organização Resistência Libertária (ORL-CAB)

O evento no facebook pode ser visualizado através do seguinte link

ANARQUISMO É LUTA!

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Memória proletária: "A eterna comédia"



Disponibilizamos agora mais uma matéria publicada no jornal da Confederação Operária Brasileira, a COB, primeira central sindical do país e ligada à Associação Internacional dos trabalhadores. O Texto trata de um assunto pertinente e que se mantém atual até o presente: Eleições. Os trabalhadores apontam as contradições deste sistema e as consequências práticas que o voto implica ao povo. O texto para esta publicação sofreu alterações na escrita, obedecendo as novas regras ortográficas da língua portuguesa, objetivando facilitar a leitura; apesar disso, o texto original será disponibilizado para download no fim do post. 

NÃO VOTE, LUTE!

A ETERNA COMÉDIA

Assistimos há dias ao desenrolar da mais repugnante e grosseira comédia representada pelos políticos profissionais do Brasil.

E no meio de toda essa bandalheira só ressalta uma coisa, bem lamentável, por certo: Dum lado, a desonestidade, a falta de caráter e de ideais que caracterizam todos os políticos, e daí a covardia dominando tudo, impedindo que as opiniões sejam manifestadas, a ambição abafando a sinceridade, o triunfo mais completo, enfim, da banalidade, da fraude, do canalhismo e da mais odiosa caudilhagem. 

Do outro, um povo indiferente, apático, esmagado pelo formidável peso dos preconceitos religiosos e pela falta de educação, extenuado por um trabalho rude e prolongado e pela falta de alimentação e 
habitações higiênicas, servindo de joguete dos mais torpes ambiciosos, deixando fazer, assistindo impassível, como se nada tivesse com isso, à distribuição que, no meio de nauseantes disputas e de lutas odiosas, fazem salteadores que dominam a situação de tudo quanto ele produz á custa duma vida miserável e indigna.

E assiste a tudo isso como se tratasse dum espetáculo divertido, como se não estivessem em jogo os seus interesses e a sua dignidade...

*

A quem culpar por este estado de coisas? Por muitas voltas que demos ao assunto sempre chegamos à mesma conclusão. O mal está na organização da atual sociedade, como todos os sociólogos sinceros vem mostrando-nos há tempo.

O açambarcamento da propriedade por uma minoria e as consequências que a sua manutenção acarretam, levaram-nos a essa situação. Só uma transformação na sociedade poderá resolver o problema.

Todas as reformas propostas pelos políticos fracassarão fatalmente. O povo não poderá levantar-se enquanto não sacudir o jugo dos monstros que o esmagam: Estado, Militarismo, Religião, Capitalismo. Propor paliativos sem fechar para sempre essas bocas imensas que tudo devoram, será obra inútil e perniciosa.

Pensam nisso os políticos profissionais e os reformadores burgueses? Não.

Então o dever das pessoas sinceras e de boa fé é abandona-los, negar-lhes em absoluto o seu apoio e iniciar uma intensa obra de educação popular capaz de criar não ambiciosos e arrivistas, mas homens dispostos a investigar o mal e ataca-lo nas suas raízes. Uma obra capaz de levantar o espirito decaído da parte sã do proletariado, mas que o afaste do charco parlamentar.

Não nos cansaremos de repetir ao proletariado militante: que se interesse pela situação politica, que tome parte na luta, mas em beneficio próprio; que aproveite a ocasião para orientar o povo, preparando assim o epilogo da farsa, que fatalmente terminará em tragédia...

MANUEL MOSCOSO.


Fonte: MOSCOSO, Manuel. A eterna comédia. A Voz do Trabalhador, Ano I, n° 12. 1° de Junho de 1909, p. 01.

Download do texto original > aqui <

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

[Teresina]: Roda de diálogo - Cantos e contos da História: Nestor Makhno




Dia 19 de setembro, às 14 horas, no prédio da Fundação Nacional do Humor, (que se localiza na Praça dos Skatistas, em Teresina), o Grupo de Estudos Anarquistas do Piauí, juntamente com o Movimento Punk, começam o projeto Roda de Diálogos.

Esta construção de socialização de saberes, será um espaço para compartilhamento de leituras, estudos, percepções sobre a cultura libertária, pessoas e momentos que contribuíram e contribuem para a propagação dos ideários anarquistas e libertários.

Neste primeiro momento, falaremos sobre a biografia de Nestor Makhno. Vamos que voamos?

Link do evento: http://migre.me/lJxPn


ANARQUISMO É LUTA!

terça-feira, 16 de setembro de 2014

"A Politica"


 


A descrença com as eleições não é recente. Em Parnaíba, por exemplo, é possível perceber que esta realidade era vivenciada durante a República Velha. Em um jornal operário chamado "O Artista", os trabalhadores da cidade litorânea piauiense desdenham deste mecanismo de controle social através do artigo "A Politica", lançado na primeira edição deste, datado de 15 de Agosto de 1919: 

Eis aqui um interessante questionário:
- Que é a politica?
- É a sciencia que ensina a viver do orçamento.
- Que é orçamento?
- É a panella nacional onde todos desejam metter a colher.
- Como se divide a politica?
- divide-se em partidos.
- Pode dizer-me quantos partidos há?
- Dois, o dos que estão em cima e o dos que estão em baixo.
- Costumam inverter-se estas funcções politicas?
- Sim, senhor, por meio de uma revolução.
- E então, o que succede?
- Succede que aquelles que esmagaram, gritam, e os que gritaram, esmagam.
- Obtem-se, por meio dessa inversão, algum beneficio politico?
- Não, senhor, porque a ordem dos factores não altera o producto.


É válido ressaltar que a mesma matéria foi publicada novamente em 24 de Junho de 1933, desta vez no jornal anarquista "A Plebe", fundado por Edgard Leuenroth em São Paulo, e disponível no livro ABC do Sindicalismo Revolucionário, de Edgar Rodrigues (p.71).

Hoje em 2014, apesar das diversas modificações sociais que sofremos ao longo de décadas, a descrença com a política institucionalizada só aumenta. Em Junho do ano passado, esta descrença foi às ruas, ergueu barricadas, e percebeu que a modificação da realidade não se dá elegendo candidatos. Os sonhos e as reivindicações não cabem nas urnas. É preciso buscar outras formas de ação política, fora dos tramites da velha burocracia partidária de disputa do Estado. 

Os políticos, governantes e empresários, a todo tempo querem que acreditemos que "nossa maior arma é o voto", o que não passa de uma grande mentira, e que não é sequer uma "arma". Escolher entre cinza claro ou cinza escuro não parece uma boa forma de mudar. É preciso encontrar outros tons e outras cores na política, que se faz não em palanques, mas sim no dia-a-dia, organizando e fortalecendo assembleias de bairro, conselhos populares, grêmios estudantis, centros e diretórios acadêmicos, sindicatos, e desenvolvendo formas de propagar as ideias de justiça, igualdade e liberdade. 

Se votar mudasse algo, seria proibido.
Não vote, organize-se e lute!